quarta-feira, 26 de junho de 2024

Elvis Presley - King Creole - Outros Lançamentos

King Creole - Outros Lançamentos
Depois da exibição nos cinemas em 1958 o filme King Creole (Balada Sangrenta) só voltaria a ser exibido na TV americana, no canal CBS em 1966. Depois disso o filme ainda foi reprisado algumas vezes, principalmente pelo canal ABC, mas em horários alternativos. Como a TV colorida estava chegando no mercado dos Estados Unidos as emissoras programavam os filmes em preto e branco para as madrugadas. No Brasil o filme foi exibido pela primeira vez pela TV Tupi, em 1968, dez anos depois que foi exibido nos cinemas. 

Com a popularização dos videocassetes na década de 1980 vários filmes antigos também ganharam suas versões nesse novo formato. Os filmes de Elvis eram lançados em grandes pacotes contendo vários títulos, inclusive em preços promocionais para locadoras de vídeo e também como venda direta ao colecionador. Nos Estados Unidos praticamente todos os filmes de Elvis foram lançados em VHS. Dois pacotes se destacavam, um com os filmes da MGM e outro com os filmes da Paramount. 

Quando o DVD tomou o lugar do VHS os mesmos filmes foram relançados nesse formato nos Estados Unidos. Agora com capas mais bem trabalhadas, de acordo com a época, onde os posters oficiais originais foram devidamente deixados de lado por sem antigos e pouco comerciais para esse novo mercado. Novamente a MGM saiu na frente, colocando à venda todos os filmes de Elvis nesse estúdio. A Paramount lançou logo depois seu pacote, com King Creole entre os títulos disponíveis. 

No Brasil os filme de Elvis da MGM e da Paramount foram comprados pela Rede Globo na década de 1970. E foram exibidos muitas vezes na Sessão da Tarde, algo que continuou nos anos 80. Como King Creole era um filme em preto e branco não era exibido nessa sessão vespertina, mas em 1988 quando o filme completou 40 anos de seu lançamento original ele foi exibido na Globo na Sessão Classe A que passava nas madrugadas de quarte-feira. Era uma sessão especial apenas com filmes clássicos em preto e branco. O filme também chegou a ser exibido no canal Telecine Cult, já na era dos canais pagos. Por fim o filme também ganharia uma versão em VHS quando foi lançado no Brasil ao lado de outros títulos da Paramount como Feitiço Havaiano, Saudades de um Pracinha, Garotas e Mais Garotas, O Seresteiro de Acapulco e No Paraíso do Havaí. 

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 25 de junho de 2024

Elvis Presley - King Creole nos Cinemas

King Creole nos Cinemas
O filme King Creole (Balada Sangrenta, no Brasil) chegou aos cinemas dos Estados Unidos em 3 de julho de 1958. A estreia contou com uma noite de gala em Los Angeles, com o diretor Michael Curtiz e o elenco do filme, menos Elvis. Ele nunca apareceu para uma première de seus filmes. Uma coisa lamentável, mas na mentalidade tacanha do Coronel Parker, Elvis só apareceria em pública se fosse remunerado. Ele havia dito certa vez: "Se quiserem ver Elvis que paguem um ticket de bilheteria nos cinemas!". Nada era de graça para o velho empresário. 

No Brasil o filme chegou no final de ano, em dezembro, com exibições em cinemas no Rio, São Paulo, Salvador e Recife. Depois foi sendo exibido nas semanas seguintes em várias capitais do país. Naquele tempo os filmes literalmente viajavam pelo país. Grandes rolos de película que as distribuidoras levavam de cidade em cidade para exibição nos cinemas. Primeiro nas capitais, depois na cidades do interior. A distribuidora nacional alugava os rolos para os donos de cinema. Se desse boa bilheteria, o filme continuava em cartaz por mais uma semana. Em Sáo Paulo o filme ficou em cartaz por três semanas, no Rio de Janeiro, por um mês. 

Nos Estados Unidos o filme foi bem elogiado pela crítica. De maneira em geral os jornalistas norte-americanos especializados em cinema gostaram do que viram. Elogiaram Michael Curtiz, que era um diretor respeitado e sobrou elogios até mesmo para Elvis. A mídia em geral deu destaque ao lançamento do filme e ele foi muito bem sucedido nas bilheterias, a tal ponto que a Paramount Pictures quis assinar um contrato de sete anos com Elvis. Isso só não aconteceu porque o cantor tinha outros problemas a resolver. 

Ele havia sido convocado pelo Exército americano para prestar serviço militar. Naquela época, antes da Guerra do Vietnã, o serviço militar ainda era obrigatório. O governo americano até entendeu a situação de Elvis e por isso ofereceu a ele uma alternativa, de serviços promocionas e shows gratuitos para as tropas estacionadas no exterior, algo que vários artistas tinham feito no passado. Só que o Coronel Parker disse não! Como ele já havia dito antes, Elvis jamais iria se apresentar de graça. Com isso Elvis se alistou e foi servir o exército, como um recruta comum. 

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Elvis e a Balada Sangrenta

Elvis e a Balada Sangrenta
Sempre muito elogiado, o último filme de Elvis nos anos 50, o famoso King Creole (Balada Sangrenta, no Brasil) merece algumas reflexões adicionais. Não nego que seja um filme muito bom, entretanto afirmar que estaria no mesmo patamar de alguns filmes de Marlon Brando ou até mesmo do ídolo de Elvis, James Dean, já me soa um pouco exagerado. 

Perceba que inicialmente foi um roteiro escrito justamente para os dois rebeldes máximos de Hollywood naquela década. Só que Brando recusou o papel afirmando que já tinha passado da idade (e ele tinha razão sobre isso) e James Dean, que parecia condenado logo no começo de sua carreira a interpretar jovens encucados e confusos, morreu antes de aceitar o papel. Assim o roteiro ficou órfão e a Paramount Pictures entendeu que Elvis poderia ser uma boa opção. O roqueiro rebolador de cabelos de brilhantina poderia salvar aquele projeto. 

Não me entenda mal, acredito que Elvis não se saiu mal, mas vamos falar a verdade dos fatos, ele novamente foi salvo por sua música. Se o filme fosse inteiramente dramático, como originalmente foi concebido, penso que Elvis estaria em apuros. Ele não era ator profissional, apenas enganava bem e tinha boa presença de cena, mas na real não era Marlon Brando e nem James Dean. Havia um Actors Studio de distância entre eles! 

Além disso o filme, apesar de seus inegáveis méritos artísticos, não foge muito da fórmula dos chamados filmes de Elvis. O que isso quer dizer? Bom, tem muitas cenas musicais, duas mulheres disputando seu coração (sendo uma mais jovem boazinha e uma mais velha, do tipo mulher fatal) e claro um vilão, aqui sendo interpretado pelo Walter Matthau, que convenceu bem como mafioso, mas que fez sua carreira praticamente toda interpretando rabugentos em filmes cômicos. Brando é que se consagrou como o mais perfeito padrinho das famílias da cosa nostra. 

Então é isso. Michael Curtiz teve sua experiência diferenciada e Elvis também teve a chance de ser Brando Dean por um dia. Um filme mais do que interessante para quem aprecia a história do cinema, mas ainda longe dos grandes filmes de Hollywood em sua era de ouro. 

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 18 de junho de 2024

Elvis Presley - Balada Sangrenta

É considerado o melhor filme da carreira de Elvis Presley. De fato é um dos melhores momentos de Elvis em sua carreira como ator. Realmente “King Creole” é cinema de altíssima qualidade. Do roteiro às atuações, do argumento à trilha sonora, tudo é muito bem realizado, caprichado, de primeiríssima linha. Isso era de se esperar, pois se trata de uma direção assinada por Michael Curtiz, o diretor de “Casablanca” e tantos outros clássicos, como os filmes que dirigiu com o astro Errol Flynn na Warner, durante as décadas de 1930 e 1940, por exemplo. Então não é nenhuma surpresa o excelente nível técnico do filme como um todo.

A trama se passa numa New Orleans com muita música no ar, mas também com muita criminalidade pelos becos escuros da cidade. É nesse cenário que vive o jovem Danny Fisher (Elvis Presley). Após a morte de sua mãe em um acidente automobilístico, a outrora família feliz de Danny entra em crise. Seu pai (interpretado pelo ator Dean Jagger), um homem honesto e digno, não consegue mais se firmar em nenhum emprego. Já sua irmã Mimi (Jan Shepard) tenta de alguma forma ajudar em casa, ocupando a posição que era exercida por sua mãe falecida. Uma pessoa que logo se torna o equilíbrio emocional da família Fisher.

O sonho de todos eles é que Danny se forme, construa assim um futuro melhor para si e venha a ter um dia uma profissão que lhe dê segurança e estabilidade na vida. A escola se torna a única esperança de toda a família. E é justamente no último dia de aula, quando está prestes a receber seu diploma, que Danny acaba se envolvendo em uma confusão que irá alterar todo o seu destino. Ele briga com alguns colegas na porta da escola e por isso não consegue mais se formar. Desiludido, decide ir atrás de algum trabalho melhor na Bourbon Street, a principal e mais famosa rua de New Orleans. Cheia de boates e cabarets, a Bourbon é uma opção para quem não tem um diploma como Danny. É lá que Maxie Fields (Walter Matthau) impera, controlando tudo menos a pequena casa noturna chamada “King Creole”, onde Danny acaba encontrando um emprego como cantor fixo. E justamente nesse meio cheio de violência e crimes, disputas e concorrências desleais que Danny irá tentar finalmente abrir os caminhos de sua vida.

“Balada Sangrenta” tem um excelente roteiro que procura desenvolver todos os personagens. Apesar das músicas suavizarem um pouco o clima barra pesada da estória, Michael Curtiz conseguiu manter a densidade dramática dos acontecimentos. O Danny Fisher de Elvis é um cara durão, tenaz, que não aceita desaforos, bem ao contrário de seu pai, que muitas vezes se coloca em situações humilhantes apenas para garantir um suado e minguado salário em um emprego como assistente numa farmácia local. Isso é tudo o que Danny não deseja em seu futuro. Para piorar ele começa a andar com a turma de Shark (Vic Morrow de “Sementes da Violência”). Por falar nisso, o elenco coadjuvante de “Balada Sangrenta” é realmente excepcional.

O personagem de Elvis fica dividido entre o amor inocente e puro de Nellie (interpretada por Dolores Hart, mais uma vez contracenando com Elvis) e a paixão pela desiludida Ronnie (Carolyn Jones), uma garota de boate e amante casual do gangster Maxie. E por falar nesse personagem não deixa de ser muito interessante ver Walter Matthau interpretando um gangster que tenta controlar a tudo e a todos com violência, chantagens e poder econômico. Suas cenas ao lado de Elvis são excelentes. Curiosamente aqui Matthau deixou de lado seus personagens cômicos, em divertidos filmes ao lado de Jack Lemmon, para atuar em uma papel bem sério, diria até mesmo sinistro. Foi uma exceção em sua longa carreira no cinema.

E o Rei do Rock, como se sai com tanta responsabilidade ao ter que atuar no meio de tantos atores talentosos? Muito bem. A crítica da época elogiou Presley por sua capacidade de segurar um filme desse porte! Embora não fosse um ator com formação dramática, não há como deixar de elogiar o cantor em sua caracterização aqui. Obviamente que sua atuação não pode ser comparada aos grandes atores da época, mas dentro de suas possibilidades Elvis se saiu excepcionalmente bem. E ele tem muitas cenas complicadas ao longo do filme, seja sofrendo ao saber que seu pai foi apunhalado, seja tentando transmitir a dor pela perda de uma pessoa querida.

Embora tivesse a opção de realizar o filme em cores, o diretor Michael Curtiz se decidiu pelo Preto e Branco. A decisão foi baseada no próprio enredo do filme que pedia por um clima mais sórdido, noir, sombrio, ideal para o P&B. Outra decisão do diretor foi filmar grande parte do filme nos estúdios da Paramount em Los Angeles. Apenas algumas cenas seriam realizadas em locação na cidade de New Orleans, como a seqüência final no píer. Dentro dos confortáveis estúdios era bem mais fácil controlar as filmagens. Assim uma Bourbon Street foi recriada dentro do estúdio, o mesmo acontecendo com as boates de Maxie Fields e o próprio King Creole.

Em conclusão, “Balada Sangrenta” é um pequeno clássico da década de 1950 que merecia inclusive ter mais reconhecimento. Há uma mistura de elementos e gêneros que vão do drama ao suspense, do musical ao romance, que não pode ser subestimada. Pena que Michael Curtiz já estava com a idade muito avançada, perto de se aposentar definitivamente. Ele nunca mais trabalharia com Elvis. A lamentar também os rumos que a vida do próprio Elvis tomou após terminar o filme, ao ser convocado para o exército americano, interrompendo sua carreira em Hollywood, logo no melhor momento e na melhor fase de toda a sua vida artistica. De qualquer modo ficou para a posteridade essa obra cinematográfica, que resistiu excepcionalmente bem ao tempo. Uma preciosidade que merece ser redescoberta não apenas por fãs de Elvis Presley ou admirados de Michael Curtiz, mas principalmente pelos cinéfilos em geral. “Balada Sangrenta” é sem dúvida um exemplo do que de melhor Hollywood produzia naquela época.

Balada Sangrenta (King Creole, Estados Unidos, 1958) Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Herbert Baker, Michael V. Gazzo baseados na obra "A Stone for Danny Fisher" de Harold Robbins / Elenco: Elvis Presley, Carolyn Jones, Walter Matthau, Dolores Hart, Dean Jagger, Vic Morrow, Paul Stewart, Jan Shepard, Liliane Montevecchi / Sinopse: Danny Fisher (Elvis Presley) se vira como é possível para ajudar sua família. Após as aulas ganha uns trocados limpando mesas e arrumando os salões de bares e casas noturnas em New Orleans. É justamente aí que descobre ter um talento especial, o de cantor. Disputado por duas casas noturnas da Bourbon Street, ele terá que ser forte para sobreviver ao jogo de gangsters e criminosos de todos os tipos.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Elvis Presley - King Creole - Discografia Brasileira

King Creole - Discografia Brasileira
Para surpresa geral dos fãs brasileiros a trilha sonora do filme foi lançada junto com a chegada do filme nos cinemas. Foi a primeira vez que isso aconteceu pois os discos costumavam chegar com 1 ano de atraso nas lojas de discos. E de forma em geral o álbum brasileiro também era bem fiel ao original norte-americano. Apenas mexeram um pouquinho na ordem das músicas. "Lover Doll", por exemplo, foi deslocada, abrindo o lado B do disco nacional. Nada demais, apenas uma pequena mudança que não interferia em nada na audição.

Depois desse lançamento nos anos 1950 o disco ficou muitos anos fora de catálogo, só voltando ao mercado brasileiro em 1982 no pacote do selo Pure Gold. Há quem reclamasse da qualidade sonora dessa edição, mas eu procuro ver pelo lado positivo. Com selo amarelo da RCA o álbum voltava em uma nova edição para os fãs brasileiros de Elvis. Mudaram um pouco a capa, mudando alguns detalhes da direção de arte original. Em minha opinião a capa ficou até mais bonita. 

Depois disso não houve mais edições em vinil. As músicas do filme só voltariam ao nosso mercado em uma edição em CD por volta de 1992. Uma edição até bem simples, sem luxos. O que mais senti falta foi das fotos do filme que vinham na contracapa das edições em vinil. Foi uma versão econômica demais em meu ponto de vista. Um pouco mais de capricho cairia muito bem. 

Por fim a última vez que tive conhecimento de um lançamento nacional com essas músicas do King Creole foi no Box The King of Rock n Roll que trazia todas as gravações de Elvis feitas nos anos 1950. E claro que essas músicas do Balada Sangrenta também foram incluídas. Curioso é que no box dos anos 60 houve uma separação em dois boxes. Em um apenas músicas de estúdio, no outro as músicas de filmes. Na edição dos anos 50 isso não aconteceu, foi tudo junto e misturado. 

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Elvis Presley - King Creole

A principal preocupação de Danny Fischer (Elvis) não é ser um astro do rock, mas sim terminar seus estudos e se formar. Mas, com o pai desempregado o único jeito de conseguir isso é ir trabalhar como copeiro, limpando mesas num night club barra pesada, onde ele conhece todos os tipos que frequentam o submundo de New Orleans. Entre essas pessoas está Ronnie (Carolyn Jones), uma prostituta com um coração de ouro, a quem ele protege de um bando de bêbados matutinos quando ela está voltando para casa depois de uma noite dura. Eles ficam amigos e, quando Ronnie o acompanha até a escola, alguns estudantes a insultam.

Danny acaba brigando com eles e é expulso da escola, perdendo a chance de se formar. A barra começa a ficar mais pesada e, na mesma noite, ele se envolve com uma gang de marginais liderados por Tubarão (Vic Morrow) e começa a roubar lojas de departamentos. Danny só precisa cantar para a freguesia, desviando a atenção dos companheiros que roubavam a loja. É a partir desta parte da trama que o personagem de Danny Fischer começa a pensar seriamente em se tornar um cantor. Entre assaltos e canções, Danny conhece Maxie Fields (Walther Matthau), um sinistro chefe da máfia local, e tem um caso com Ronnie e outro com a ingênua Nellie (Dolores Hart) e começa a cantar em uma boate chamada King Creole, onde vira um enorme sucesso, atraindo multidões.

Maxie Fields, dono do Blue Shade, uma boate rival, tenta tirar Danny do King Creole e contratá-lo para o seu club. Como ele não aceita, acaba sendo chantageado por tomar parte num roubo cuja vítima, desconhecido para ele, era seu próprio pai, que fica muito machucado e vai parar no hospital. Sem dinheiro para pagar a conta do pai hospitalizado, Danny aceita a oferta de Maxie Fields. Nas garras do gangster ele segura a situação por algum tempo, mas quando Maxie conta ao pai de Danny que seu filho foi um dos ladrões que o atacaram, Danny fica possesso e bate no mafioso.

Em busca de vingança, Fields manda seus homens atrás dele, que está escondido com Ronnie numa cabana remota. Quando são descobertos pelos capangas, Ronnie leva um tiro e morre. Felizmente, Maxie Fields também é encontrado morto e Danny pode voltar para o King Creole, onde se reconcilia com o pai e com a sempre fiel Nellie. Elvis sempre dizia que de todos os seus filmes, King Creole era o seu favorito

Elvis - Documento Histórico.

terça-feira, 11 de junho de 2024

Elvis Presley - King Creole - Edição FTD

A trilha sonora do filme "Balada Sangrenta" também ganhou uma edição especial dentro do selo Follow That Dream (FTD). Infelizmente pouca coisa restou das sessões de gravação desse álbum. Por isso quando foi anunciado o lançamento do FTD King Creole não me empolguei nem um pouco. É de se lamentar, pois a trilha sonora de King Creole teve uma gravação particularmente complicada com Elvis tendo que trabalhar com o maior número de músicos de sua carreira até aquele momento. A sonoridade de New Orleans exigia um arranjo bem elaborado de metais com vários instrumentistas. Músicos com quem Elvis nunca havia trabalhado antes.

Colocar todos aqueles músicos em sincronia realmente não foi  um trabalho fácil dentro dos estúdios. Mas Elvis sabia lidar muito bem com esse tipo de situação. Como sempre Elvis usava o bom humor e a descontração dentro dos estúdios para aliviar a tensão e a ansiedade do grupo. As sessões de gravação foram realizadas nos estúdios da RCA Victor Radio Recorders, em West Hollywood, California em janeiro de 1958. Walter Scharf foi o produtor, acompanhado do engenheiro de som Thorne Nogar. Em fevereiro Elvis voltaria aos estúdios para alguns complementos e acabaria gravando uma nova música chamada "Danny" que acabou ficando de fora do álbum original, embora fosse uma bela balada, bem de acordo com o contexto do filme, uma vez que Danny era o nome de seu personagem.

Como escrevi, muita coisa se perdeu dessas sessões. A RCA não teve o cuidado de guardar grande parte do material descartado na época. E o que sobreviveu das sessões de King Creole? Pouca coisa realmente. As sessões foram longas e exaustivas e era de se supor que muita coisa fosse realmente gravada, mas grande parte das fitas originais foram simplesmente perdidas ou apagadas, não se sabe ao certo. Assim além das versões oficiais que conhecemos sobrou pouca coisa e esse FTD King Creole retrata bem isso. Para compensar a falta de material o selo resolveu apostar numa edição caprichada com um livro recheado de fotos (algumas inéditas) e muitas informações impressas. Direção de arte muito caprichada e bonita.

Claro que nada disso vai preencher a lacuna do que se perdeu mas dentro do possível é realmente o que podemos contar. Até mesmo “Danny”, a famosa música não usada na trilha, surge tímida. Aliás até hoje a exclusão de “Danny” do disco oficial causa debate. A canção não pode ser considerada uma das melhores coisas da trilha sonora, mas tem seus méritos, principalmente na vocalização do grupo de apoio de Elvis. Já a versão do filme de “As Long As I Have You” que ouvimos aqui é muito boa. A voz de Elvis praticamente sussurrada é um ponto alto, assim como “Lover Doll”, em versão bem simples, apenas com violão. De uma simplicidade cativante. Dois casos em que a simplicidade é tudo! Se as anteriores são caracterizadas pela singeleza o take 3 de King Creole peca pelo excesso. Há um exagero nos arranjos de metais ao fundo que torna a sonoridade estranha, pouco atrativa. Ainda bem que os produtores e Elvis perceberam isso e cortaram alguns instrumentos na versão oficial.

E o que dizer do take 18 de King Creole? Parece outra canção tal a mudança em sua velocidade. Os Jordanaires estão mais presentes e Elvis parece não levar nada muito a sério – lá pela metade da gravação ele percebe que aquela melodia certamente não tinha nada a ver mesmo. Esse registro é curioso mas foi descartado logo. É um take alternativo que definitivamente não deu certo. O CD se encerra com a “Alma Mater” Steadfast, Loyal And True. Muita gente não gosta dessa música, mas em minha opinião ela foi salva pela ternura e inocência típicas da década de 1950. Enfim, é isso. Quem sabe um dia a sessão completa não venha a surgir por aí. Possa ser que os tais registros perdidos ainda existam. Aqui vale a máxima: “A esperança é a última que morre!”.

Elvis Presley - FTD King Creole
Original Album: 1 King Creole – take 13 / 2 As Long As I Have You – take 10 / 3 Hard Headed Woman – take 10 / 4 Trouble – take 5 / 5 Dixieland Rock – take 14 / 6 Don't Ask Me Why – take 12 / 7 Lover Doll - take 7 / 8 Crawfish – take 7 / 9 Young Dreams – take 8 / 10 Steadfast, Loyal And True / 11 New Orleans – take 5 / Material Bonus: 12 Danny – take 10 / 13 As Long As I Have You – (movie version) – take 4 / 14 Lover Doll (undubbed EP master) – take 7 / 15 King Creole (First version) - take 3 –16 Steadfast, Loyal And True (First version) – take 6 / 17 As Long As I Have You (unused movie version) – take 8 / 18 King Creole (First version) – take 18 / 19 Steadfast, Loyal And True (undubbed version).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

Elvis Presley - Elvis & Sophia Loren

Elvis estava tranquilamente sentado no refeitório da Paramount Pictures, durante uma pausa nas filmagens do filme "King Creole" (Balada Sangrenta) quando foi interrompido em sua refeição por Sophia Loren. Ela foi até Elvis para se apresentar pessoalmente. Já que ninguém apresentava os dois, ela decidiu que iria lá conhecer Elvis de qualquer jeito. "Olá Elvis, sou Sophia Loren!". Elvis se levantou, como bem determinava a educação sulista, apertou a mãe da atriz e respondeu: "É um prazer conhecê-la". Claro que Elvis sabia quem era Sophia Loren, já que ela estava se tornando uma das atrizes mais populares do cinema americano.

Sophia se sentou ao lado de Elvis e após um pequeno bate papo com o cantor viu se aproximando o fotógrafo Bob Willoughby. Esse não perdeu tempo, vendo ali duas estrelas do cinema juntas. Apontou sua câmera e saiu tirando uma série de fotos! Para sua surpresa Sophia Loren pulou então no colo de Elvis, que visivelmente ficou até um pouco constrangido com o avanço da atriz. Ele então  começou a dar risada. Sophia Loren decidiu despentear  completamente o cabelo de Elvis, enquanto as fotos iam sendo tiradas... foi um momento de pura diversão e desconcentração para todos que estavam ali. Sophia Loren estava claramente provocando Elvis, de um jeito até bem pouco sutil.

Entre risadas, beijos e abraços, Elvis acabou perdendo sua refeição, mas em compensação se divertiu muito também. Sophia Loren pareceu muito contente, provocando Elvis, dizendo que havia ouvido falar que ele era "um rapaz muito bonzinho". Aos 23 anos de idade Elvis obviamente entendeu bem os avanços da atriz, mas preferiu apenas se divertir com a situação. Anos depois a atriz contou em uma entrevista que seu objetivo era mesmo dar uns amassos em Elvis, convidar ele para jantar e depois levar para a cama o famoso rockstar, mas pelo visto seus planos não deram muito certo. Ela lamentou depois dizendo: "Que pena que ele não era um homem italiano!". Outra coisa que chamou a atenção de Sophia Loren foi a beleza de Elvis. Ela disse: "Elvis era muito mais bonito pessoalmente do que nas fotos! Foi um dos homens mais bonitos que ja conheci na minha vida!".

Elvis, por sua vez, elogiou a atriz afirmando: "Eu assisti a todos os filmes dela. Só que ela me disse que só havia assistido um dos meus filmes!" Depois de rir um pouquinho, Elvis disse: "Tudo bem! Espero que depois possa trabalhar ao seu lado no cinema, depois que eu voltar do exército e retomar minha carreira". Teria sido sem dúvida uma boa parceria no cinema, mas infelizmente nunca aconteceu. Elvis e Sophia Loren eram ambos contratados pela Paramount Pictures e teria sido fácil produzir um filme com o casal. Bastava ter vontade. Só que isso não passou pela cabeça do produtor Hall Wallis. Ele perdeu a oportunidade de unir o Rei do Rock e a estrela italiana em um mesmo filme. Teria sido muito interessante, tanto para os fãs de rock como para os fãs de cinema da época.

Pablo Aluísio.


terça-feira, 4 de junho de 2024

Elvis Presley - King Creole - Texto II

Falando sinceramente Elvis Presley nunca contou com a boa vontade dos críticos de cinema ao longo de sua carreira. Via de regra seus filmes e suas atuações eram criticadas severamente pelos especialistas da sétima arte. Porém como toda regra tem exceção, em "Balada Sangrenta" (King Creole, 1958) ele finalmente recebeu elogios. As razões são muitas e até bem diferentes entre si. "King Creole" era cinema puro, cinema de qualidade. O fato do protagonista ser interpretado por um rockstar era um mero detalhe. Penso que os fãs de cinema sempre rejeitaram quando ídolos da música tentaram fazer sucesso nesse campo cultural. Havia uma barreira entre as artes. Quem era do cinema estava dentro. Quem era do mundo da música teria que suar para provar seu valor.

Só que ficou mesmo complicado tecer a lenha nesse filme, principalmente quando se tinha Michael Curtiz como diretor. Ele era um símbolo da era de ouro do cinema americano. Dirigiu dezenas de grandes filmes, entre eles "Casablanca", considerada uma obra-prima absoluta das telas. Arrasar com "King Creole" significava arrasar também com Michael Curtiz e isso definitivamente estava fora de cogitação entre os críticos e entre os cinéfilos. Assim eles todos tiveram que reconhecer os méritos do filme, mesmo que para isso precisassem engolir Elvis Presley no elenco.

E a trilha sonora do filme? Outra surpresa maravilhosa. O puro Rock foi deixado um pouco de lado, ou melhor dizendo, as faixas fortes ainda estariam presentes no disco, mas com outra sonoridade. Não havia mais como a banda tradicional de Elvis dar conta dos arranjos, por isso um grupo enorme de músicos foi contratado pela RCA Victor. A maioria deles eram músicos de jazz, de New Orleans. Justamente o tipo de artista que essas músicas pediam. De fato essa sessão de gravação foi a mais peculirar e ímpar da carreira de Elvis até aquele momento. Um tipo de som que ele nunca havia feito antes em sua vida.

E apesar de ser uma espécie de novato nesse tipo de sonoridade, Elvis se deu bem. Ele apenas entendeu que deveria continuar a ser o mesmo cantor de antes. Os arranjos de metais ao seu lado seriam apenas um bônus. E não deixava de ser curioso também que não fazia muito tempo Elvis havia criticado sutilmente o jazz numa entrevista. O jornalista perguntara a ele se gostava de jazz. Elvis respondeu que não. Não iria falar mal do estilo musical, mas que na verdade não ouvia jazz, não gostava e não o entendia muito bem. É de se estranhar que de todos os ritmos musicais Elvis tenha implicado logo com o jazz. Em Memphis esse tipo de música era até bem comum. Só que Elvis parecia bem mais à vontade cantando gospel, blues ou country. O jazz definitivamente não fazia a cabeça daquele jovem de vinte e poucos anos. Porém lá estava ele nos estúdios da RCA Victor, gravando o seu disco mais jazzístico de sua carreira.

Essa trilha sonora do filme "King Creole" (Balada Sangrenta, no Brasil) é realmente muito boa. Os compositores e arranjadores tinham a complicada missão de unir o som de New Orleans e seu cenário musical mais do que rico, com a sonoridade do novo gênero musical que estava nascendo, o Rock. Não era algo fácil de fazer, mas ouvindo esse disco nos dias atuais chegamos facilmente na conclusão de que todos os envolvidos, criadores e músicos, conseguiram o que estavam procurando, com enorme êxito.

Basta colocar o disco para tocar e ouvir as primeiras notas da música tema, "King Creole", para perceber que vinha coisa muito boa por aí. Essa canção foi encomendada especialmente para a dupla Leiber e Stoller. Eles já tinham uma parceria de enorme sucesso ao lado de Elvis. Basta lembrar da trilha sonora anterior, "Jailhouse Rock" para bem entender que essa união de talentos tinha dado mais do que certo. Essa é uma faixa forte, com arranjos marcantes e letra relevante. Nada de bobagens, apenas um recado duro e visceral. Interessante é que a interpretação de Elvis da música no filme é um tanto convencional, dentro dos padrões. Para uma música tão marcante o diretor Curtiz deveria ter pensado em algo mais forte, contundente.

E as semelhanças de fórmula com outras trilhas sonoras continuavam. Afinal o que era "Lover Doll" a não ser uma nova tentativa de repetir o êxito de Teddy Bear. Só que havia um diferencial por aqui. O personagem de Elvis no filme era um sujeito que vivia em uma linha divisória bem clara, entre ser um bom rapaz ou cair na marginalidade. Na cena do filme ele canta e encanta com essa canção de tema tão pueril enquanto seus comparsas de quadrilha roubam a loja. Pois é meus caros, penso que esse personagem Danny Fisher foi o papel mais forte e marcante de Elvis no mundo do cinema. Falavam muito em James Dean, mas o Danny de Elvis estava mais para um jovem James Cagney, o ator que mais interpretou gângsters famosos nas telas de cinema.

E apesar de Danny ser um cara forjado nas ruas, vivendo em espeluncas administradas pela máfia, ele tentava vencer na vida com os estudos. A família dele acreditava que apenas a formação educacional iria salvar ele do mundo do crime, o que era uma visão certa do mundo naquela fase histórica. Só que ele tinha dois lados. Em uma cena poderia representar o bom moço, para em outra se envolver com pequenos crimes, furtos e coisas do tipo. Para representar o lado bom de Danny, a trilha sonora trazia a canção "Steadfast, Loyal and True", algo como uma espécie de hino escolar, muito tradicional nos Estados Unidos. Os jovens aprendiam a música da escola e depois que se formavam esses temas musicais funcionavam como boas lembravas, como símbolo de nostalgia dos tempos colegiais. Elvis cantou a música praticamente sozinho, com o mínimo de acompanhamento. Um bom momento do disco para curtir apenas sua voz, sem banda e grupo de apoio. Ficou bem bonito.

A gravação da música "Crawfish" trouxe uma novidade dentro da discografia de Elvis. Era a primeira vez que o cantor dividia os microfones com uma cantora. Acontece que o Coronel Parker era completamente contrário a Elvis realizar duetos em seus discos. Na visão do empresário isso diminuía Elvis, o seu prestígio como artista. Elvis deveria vender discos apenas com seu talento, sem precisar de ninguém. Era um tipo de orgulho sem sentido que o Coronel trazia dos seus dias de homem de circo, de gerenciador de artistas de parques de diversões. Uma coisa até mesmo bizarra se formos analisar bem.

Só que no caso dessa canção não havia outra alternativa. Elvis cantava a bela música em uma sacada em New Orleans enquanto uma senhora negra passava pela rua vendendo lagostim. Ela anunciava seus produtos à venda cantando, ao qual o personagem de Elvis respondia, também cantando. Uma bela cena, evocativa do dia a dia daquela cidade, de seus vendedores ambulantes e dos hábitos culinários da região. Quando foi a hora de decidir se a música traria ou não a participação da cantora Kitty White no álbum, o Coronel tentou tirar a participação dela da trilha sonora. Só que isso iria deixar a música sem sentido. Assim a RCA e a Paramount Pictures decidiram que ela estaria sim no disco e como eles mandavam por questões contratuais, a decisão foi mantida. Sabiamente ninguém deu ouvidos aos absurdos do Coronel. Até porque isso também poderia ser interpretado como uma questão de racismo, o que iria pegar muito mal perante os fãs de Elvis.

De todas as músicas de "King Creole" a única que Elvis levou em frente na sua carreira foi "Trouble". Ela inclusive iria ter uma importância incrível dentro do NBC TV Special em 1968. De fato é uma canção com vida própria, que poderia ser mesmo aproveitada dentro da carreira de Elvis dissociada desse filme e do contexto onde ela era apresentada no cinema. A letra também era ideal para o personagem de Elvis em "Balada Sangrenta", uma vez que ele tinha seu lado sombrio, vinculado ao submundo do crime em New Orleans. Aliás os únicos personagens de Elvis no cinema que tinham esse lado mais perigoso e criminal eram justamente o Danny de "King Creole" e o Vince de "Jailhouse Rock", não por acaso seus papéis mais fortes na sétima arte.

"As Long As I Have You" é uma boa balada do disco. Não teve muito uso fora da trilha sonora do filme. Todos os filmes de Elvis tinham sua dose de canções românticas. Fazia parte do pacote, afinal naqueles tempos os filmes de Elvis poderiam ser considerados como romances musicais (em alguns casos, comédias musicais), onde seus personagens invariavelmente tinham que cortejar a mocinha do filme, namorar com ela, tudo para encantar seu público feminino na época que no caso era formado nessa fase de sua carreira por uma imensa maioria de adolescentes. Fazia parte dos roteiros ter sempre uma ou mais cenas românticas onde essas baladas se encaixavam perfeitamente bem.

Colocar Elvis para cantar temas de jazz, ao estilo da Louisiana, não foi algo simples na época. Para quem não sabe esse estado americano tem uma das culturas mais singulares dos Estados Unidos. Nada se compara com a riqueza cultural (logo, musical também) dessa região. Muitos tinham receios de que Elvis iria ser massacrado pela onda de críticas que viria quando o disco chegasse nas lojas. Afinal aquela sonoridade não tinha nada a ver com os discos anteriores que Elvis havia gravado. Era algo novo, pantanoso para ele naquele momento da carreira. Elvis poderia passear facilmente pelo country, pelo gospel, pelo blues e pelo rock. Afinal nesses ritmos ele estaria em casa. Mas uma trilha sonora com elementos de jazz? Era outra história.

Felizmente os compositores, arranjadores e produtores desse álbum tiveram o bom senso de mesclar o estilo de Elvis com o estilo da Louisiana. E não é que deu certo mesmo! Basta ouvir a canção "New Orleans" para entender bem isso. Os arranjos de metais estão todos lá, mas também há o estilo único de Elvis cantar, os Jordanaires e parte de sua banda original. É uma mistura que parecia ser impossível, mas que no final deu certo. Mesmo que os jovens fãs de Elvis viessem a estranhar certos aspectos dessa trilha sonora, eles não iriam detestar o que iriam ouvir. Conseguiram chegar em um bom equilíbrio, algo que muitos achavam que não iria dar certo.

E para suavizar ainda mais tudo, havia o lote de músicas românticas cantadas por Elvis, faixas como "Don't Ask Me Why". Imagine para uma fã adolescente de Elvis nos anos 1950, apaixonada platonicamente por seu ídolo, ouvindo versos como "Eu vou continuar lhe amando / Não me pergunte o porquê / você é tudo o que estou desejando / Não diga adeus / Eu preciso de você mais e mais...". Claro, as jovens iam nas nuvens, sonhando com o "namorado perfeito" que era o próprio Elvis. Isso iria superar qualquer estranhamento que elas viessem a ter com os arranjos fora do padrão desse álbum "King Creole". 

Também me chama a atenção que uma parte das canções dessa trilha sonora eram bem mais convencionais do que as chamadas típicas de New Orleans. Essas poderiam estar em qualquer outro disco ou álbum normal de Elvis, sem problemas. Algumas vezes havia um mix, como em "Young Dreams". Aqui havia uma letra bem mais mediana, com pequenos, leves toques e nuances, para lembrar só um pouquinho do jazz do sul. Essa faixa aqui sempre me lembrou muito de "Young and Beautiful" pois as duas falam de romances juvenis, de amores de adolescentes. A juventude é louvada, aclamada, colocada em um pedestal. Elvis canta que tem jovens lábios para beijar, jovens braços para abraçar sua amada. E convida sua namorada para viverem juntos jovens sonhos de amor ao seu lado. Nada como um amor adolescente, na flor da idade, meus caros. As fãs de Elvis da época, nem preciso dizer, suspiravam ao ouvirem esses versos...

Então chegamos na faixa "Dixieland Rock". Antes de qualquer coisa cabe a pergunta: O que é Dixieland? Dixieland é um lugar que não existe no mundo real. É como Avalon. É um símbolo, uma imagem, uma localidade no imaginário de todo norte-americano nascido no sul dos Estados Unidos. Dixieland é um lugar nenhum e ao mesmo tempo são todos os lugares. Todas as cidades do sul são Dixieland, embora nenhuma delas seja de fato Dixieland. Dixieland é o sentimento de regionalidade, de pertencer ao sul. Quando um sulista nascido nos Estados Unidos diz que nasceu em Dixieland, todos entendem. Ele nasceu no sul, não importando qual estado e cidade ele efetivamente nasceu.

New Orleans é no sul. New Orleans então está em Dixieland. Agora o interessante é que a cultura de New Orleans é tão própria que podemos dizer que se existe uma cidade sulista que seja bem diferente do resto do sul, essa seguramente é New Orleans. Aqui há forte herança da cultura negra, dos escravos que chegaram no novo mundo nas caravelas dos escravocratas das fazendas de algodão do sul. Nesse novo mundo os negros mantiveram seus costumes, sua cultura e sua música. Ao mesmo tempo eles trouxeram para si parte também da cultura francesa, pois a  Louisiana pertenceu por muitos anos à coroa francesa, daí vem seu nome, a terra de Louis, rei da França.

"Dixieland Rock" é uma boa gravação de King Creole, o álbum, mas também temos que convir que com todo esse peso cultural que caiu sobre ela, as coisas se tornaram um pouco turvas. É um bom momento do disco, um momento cheio de vibração e energia, com Elvis em pleno pique. Só não vale tentar comparar com a herança cultural que o nome Dixieland evoca, até porque aí seria realmente até mesmo uma covardia. Séculos e séculos de cultura esmagariam esse música pop / rock da nascente cultura roqueira da década de 1950.

E sobre "Hard Headed Woman", que já tive oportunidade de escrever, não vejo muita salvação. O ritmo é muito bom, muito positivo, pra frente, go, go, go... Só que convenhamos... a letra é realmente péssima. A própria expressão que dá título à música soaria de mau gosto nos dias de hoje. Soaria vulgar, de cultura rasteira. Aqui foi desperdiçado o bom trabalho vocal de Elvis e sua banda, além dos instrumentistas da orquestra de metais que o acompanhou. Tudo isso para chamar uma jovem senhorista de "mulher cabeça-dura"? Não, não me soa interessante. Um momento anacrônico de uma trilha sonora muito boa. Essa música porém merece ser esquecida por trazer uma letra de quinta série.

Pablo Aluísio.