terça-feira, 7 de maio de 2024

Elvis Presley - King Creole - Parte 2

Essa trilha sonora do filme "King Creole" (Balada Sangrenta, no Brasil) é realmente muito boa. Os compositores e arranjadores tinham a complicada missão de unir o som de New Orleans e seu cenário musical mais do que rico, com a sonoridade do novo gênero musical que estava nascendo, o Rock. Não era algo fácil de fazer, mas ouvindo esse disco nos dias atuais chegamos facilmente na conclusão de que todos os envolvidos, criadores e músicos, conseguiram o que estavam procurando, com enorme êxito.

Basta colocar o disco para tocar e ouvir as primeiras notas da música tema, "King Creole", para perceber que vinha coisa muito boa por aí. Essa canção foi encomendada especialmente para a dupla Leiber e Stoller. Eles já tinham uma parceria de enorme sucesso ao lado de Elvis. Basta lembrar da trilha sonora anterior, "Jailhouse Rock" para bem entender que essa união de talentos tinha dado mais do que certo. Essa é uma faixa forte, com arranjos marcantes e letra relevante. Nada de bobagens, apenas um recado duro e visceral. Interessante é que a interpretação de Elvis da música no filme é um tanto convencional, dentro dos padrões. Para uma música tão marcante o diretor Curtiz deveria ter pensado em algo mais forte, contundente.

E as semelhanças de fórmula com outras trilhas sonoras continuavam. Afinal o que era "Lover Doll" a não ser uma nova tentativa de repetir o êxito de Teddy Bear. Só que havia um diferencial por aqui. O personagem de Elvis no filme era um sujeito que vivia em uma linha divisória bem clara, entre ser um bom rapaz ou cair na marginalidade. Na cena do filme ele canta e encanta com essa canção de tema tão pueril enquanto seus comparsas de quadrilha roubam a loja. Pois é meus caros, penso que esse personagem Danny Fisher foi o papel mais forte e marcante de Elvis no mundo do cinema. Falavam muito em James Dean, mas o Danny de Elvis estava mais para um jovem James Cagney, o ator que mais interpretou gângsters famosos nas telas de cinema.

E apesar de Danny ser um cara forjado nas ruas, vivendo em espeluncas administradas pela máfia, ele tentava vencer na vida com os estudos. A família dele acreditava que apenas a formação educacional iria salvar ele do mundo do crime, o que era uma visão certa do mundo naquela fase histórica. Só que ele tinha dois lados. Em uma cena poderia representar o bom moço, para em outra se envolver com pequenos crimes, furtos e coisas do tipo. Para representar o lado bom de Danny, a trilha sonora trazia a canção "Steadfast, Loyal and True", algo como uma espécie de hino escolar, muito tradicional nos Estados Unidos. Os jovens aprendiam a música da escola e depois que se formavam esses temas musicais funcionavam como boas lembravas, como símbolo de nostalgia dos tempos colegiais. Elvis cantou a música praticamente sozinho, com o mínimo de acompanhamento. Um bom momento do disco para curtir apenas sua voz, sem banda e grupo de apoio. Ficou bem bonito.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Elvis Presley - King Creole - Parte 1

Falando sinceramente Elvis Presley nunca contou com a boa vontade dos críticos de cinema ao longo de sua carreira. Via de regra seus filmes e suas atuações eram criticadas severamente pelos especialistas da sétima arte. Porém como toda regra tem exceção, em "Balada Sangrenta" (King Creole, 1958) ele finalmente recebeu elogios. As razões são muitas e até bem diferentes entre si. "King Creole" era cinema puro, cinema de qualidade. O fato do protagonista ser interpretado por um rockstar era um mero detalhe. Penso que os fãs de cinema sempre rejeitaram quando ídolos da música tentaram fazer sucesso nesse campo cultural. Havia uma barreira entre as artes. Quem era do cinema estava dentro. Quem era do mundo da música teria que suar para provar seu valor.

Só que ficou mesmo complicado tecer a lenha nesse filme, principalmente quando se tinha Michael Curtiz como diretor. Ele era um símbolo da era de ouro do cinema americano. Dirigiu dezenas de grandes filmes, entre eles "Casablanca", considerada uma obra-prima absoluta das telas. Arrasar com "King Creole" significava arrasar também com Michael Curtiz e isso definitivamente estava fora de cogitação entre os críticos e entre os cinéfilos. Assim eles todos tiveram que reconhecer os méritos do filme, mesmo que para isso precisassem engolir Elvis Presley no elenco.

E a trilha sonora do filme? Outra surpresa maravilhosa. O puro Rock foi deixado um pouco de lado, ou melhor dizendo, as faixas fortes ainda estariam presentes no disco, mas com outra sonoridade. Não havia mais como a banda tradicional de Elvis dar conta dos arranjos, por isso um grupo enorme de músicos foi contratado pela RCA Victor. A maioria deles eram músicos de jazz, de New Orleans. Justamente o tipo de artista que essas músicas pediam. De fato essa sessão de gravação foi a mais peculirar e ímpar da carreira de Elvis até aquele momento. Um tipo de som que ele nunca havia feito antes em sua vida.

E apesar de ser uma espécie de novato nesse tipo de sonoridade, Elvis se deu bem. Ele apenas entendeu que deveria continuar a ser o mesmo cantor de antes. Os arranjos de metais ao seu lado seriam apenas um bônus. E não deixava de ser curioso também que não fazia muito tempo Elvis havia criticado sutilmente o jazz numa entrevista. O jornalista perguntara a ele se gostava de jazz. Elvis respondeu que não. Não iria falar mal do estilo musical, mas que na verdade não ouvia jazz, não gostava e não o entendia muito bem. É de se estranhar que de todos os ritmos musicais Elvis tenha implicado logo com o jazz. Em Memphis esse tipo de música era até bem comum. Só que Elvis parecia bem mais à vontade cantando gospel, blues ou country. O jazz definitivamente não fazia a cabeça daquele jovem de vinte e poucos anos. Porém lá estava ele nos estúdios da RCA Victor, gravando o seu disco mais jazzístico de sua carreira.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 30 de abril de 2024

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album (1957)

Elvis Christmas Album
- Em 1957 Elvis já havia se tornado uma celebridade internacional e um sucesso incontestável. Havia estrelado três filmes de enorme êxito comercial, "Love Me Tender" (ama-me com ternura, 1956), "Loving You" (a mulher que eu amo, 1957) e "Jailhouse Rock" (o prisioneiro do rock, 1957) e estava liderando a parada dos Estados Unidos com três singles que se revezavam no primeiro lugar: "All Shook Up / That's When Your Heartaches Begin", "Teddy Bear / Loving You" e "Jailhouse Rock / Treat Me Nice". Além disso estava em primeiro lugar também com o Extended Play (compacto especial com cinco músicas) contendo toda a trilha sonora do filme "Jailhouse Rock". Como se tudo isso não bastasse havia ainda atingido a segunda colocação da Top 100 da Billboard com o single "Too Much / Playing For Keeps".

Realmente ele estava na crista da onda e num dos mais férteis períodos de sua carreira. Porém nem tudo eram flores pois Elvis estava sendo atingido de modo implacável pela imprensa norte americana, que o criticava em diversos artigos. A questão era que Elvis era chocante demais para a época e a revolução causada em razão de seu estilo musical não havia sido ainda compreendida pelos jornalistas dos anos 50. Vendo toda esta situação o empresário de Elvis, o Coronel Tom Parker, pensou num modo de melhorar a imagem de seu pupilo perante o setor mais reacionário da sociedade americana. E foi visando este objetivo que o Coronel e os executivos da RCA bolaram este disco natalino que procurava antes de tudo melhorar a situação de Elvis perante o público conservador. Como o final do ano se aproximava, nada melhor do que colocar um produto "familiar" com o nome do cantor no mercado. Elvis torceu o nariz! Músicas de natal!? Afinal qual era a do Coronel?! De qualquer forma Elvis acabou aceitando, até mesmo porque até aquele momento tudo o que tinha feito sob a orientação de Tom Parker tinha dado certo. Como não se deve mexer em time que está ganhando...

A imprensa não tardou a descobrir os planos do próximo disco do Rei do "Rock" e logo começou a satirizar Elvis pelo fato dele estar em estúdio gravando "cafonices" de natal! Essa onda de notas ruins até mesmo chegou a balançar o cantor, afinal será que o Coronel havia pisado na bola com a idéia desse disco? "Elvis Christmas Album"?! Tudo parecia um pouco forçado e fora de propósito mesmo! E o pior: não tinha nada a ver com a imagem de roqueiro rebelde construída por Elvis em seus primeiros anos. Parker rapidamente acalmou seu cliente com a seguinte frase: "Filho, eles vão se arrepender de terem escrito isso quando estivermos no primeiro lugar nas paradas! Pode confiar em mim garoto!" De qualquer forma as músicas já estavam gravadas e tudo o que restava a Elvis e aos caras da banda era esperar para ver o resultado em vendas quando o final do ano chegasse. Não havia mais como voltar atrás! Ou o disco se tornava um sucesso ou então fracassaria e humilharia completamente Elvis e sua bem consolidada imagem de rebelde sem causa. Obviamente Tom Parker estava pensando na parcela da população americana que detestava Elvis Presley e o que ele representava. Em poucas palavras: Parker queria inverter e limpar a imagem de Elvis. Já que as adolescentes e jovens já estavam conquistadas, havia chegado o momento de ganhar também a confiança das mães de suas fãs, dos pais desconfiados e dos reacionários de plantão. Parker não iria se contentar apenas com o jubilo juvenil, ele queria mais... queria a outra fatia do bolo, a outra parte da sociedade americana, essa parcela influente e principalmente rica, que iria ampliar os horizontes musicais de Elvis e trazer muitos dólares para ele e para as organizações Presley. E se para conquistar os coroas e quadradões fosse preciso bolar idéias como um disco de natal para Elvis, então que assim fosse. Tretas de Marketing?! Para Parker não, era apenas uma "ampliação de mercado", por assim dizer.

O disco foi lançado em novembro de 1957 e Parker novamente estava certo: o álbum explodiu em vendas e rapidamente chegou ao primeiro posto das principais paradas como a da revista Billboard. Para não perder o pique o Coronel ainda reservou em várias rádios importantes espaço exclusivo no horário nobre apenas para tocar o disco. Alguns fãs ficaram tenebrosos com o possível resultado. Porém essa desconfiança não durou muito, pois quando o disco chegou em suas mãos eles puderam perceber que Elvis não havia renegado seu passado e nem jogado fora o seu legado rocker. Elvis impôs seu estilo nas músicas e conseguiu gravar os primeiros "rocks de natal" da história. Apesar de toda a pressão e desconfiança assim que o disco chegou nas lojas vários articulistas que o haviam atacado anteriormente reconheceram que o LP possuía inegável valor artístico. Deram a mão à palmatória! As músicas eram bem gravadas, arranjadas e produzidas e apesar do tom nitidamente conceitual o disco poderia ser ouvido como uma boa obra pop, ideal para os jovens e pessoas mais velhas, e cujo rótulo de "cafona" não se enquadrava. Foi uma jogada de risco e sem dúvida surtiu algum efeito positivo. Tom Parker era um jogador nato e de vez em quando gostava de correr riscos. Pelo menos dessa vez ele havia conseguido vencer na roleta e ficar dentro do jogo. O álbum de natal de Elvis Presley é sem dúvida um dos grandes discos do Rei do Rock nos anos 50. Estas são as músicas do LP "Elvis Christmas Album" (LOC 1035):

SANTA CLAUS IS BACK IN TOWN (Jerry Leiber / Mike Stoller) — Blues composto pela dupla de compositores mais importante da carreira de Elvis: Leiber e Stoller. Essa canção foi escrita especialmente para Elvis sob encomenda de Tom Parker. Com destacado acompanhamento dos Jordanaires esta canção tem bom ritmo e desenvolvimento. Ela foi escrita praticamente às pressas depois que o Coronel divulgou seu projeto de colocar o Rei do Rock para cantar músicas de natal. A correria não prejudicou os resultados, apesar do baixista Bill Black ter sido criticado abertamente dentro dos estúdios por errar durante as sessões. Blackbird, como era apelidado, não era considerado um grande músico, chegando Sam Phillips a dizer que: "Bill Black era o pior baixista do mundo, tecnicamente falando, mas sabia fazer um slap como ninguém"! Quando esses atritos surgiam dentro dos estúdios Elvis procurava descontrair e melhorar o ambiente. Não era essa a primeira vez que Black falhava nas gravações e certamente nem seria a última, pois isso já tinha acontecido antes na gravação de "Baby I Don't Care" da trilha sonora de "Jailhouse Rock". Não dava para fazer boa música em um clima de tensão segundo a visão de Presley. Assim ele soltou mais uma de suas piadas e o clima geral dentro dos estúdio melhorou rapidamente. Pegando o embalo na animação promovida por ele, Elvis fez uma pequena brincadeira em cima da letra e não dispensou a inclusão de uma de suas paixões na música ao criar o seguinte verso: "You're gonna see me comin' in a big black cadillac". Apesar da sutil diversão a inovação de Elvis foi incorporada na versão oficial que saiu no disco, fazendo com que a letra original de Leiber e Stoller fosse modificada. Esse fato já havia acontecido antes quando o próprio Elvis mudou a letra de outra música de Leiber e Stoller: "Hound Dog". Apesar de adorar as canções da dupla, Elvis também não perdia a chance de dar seu toque pessoal nelas.

WHITE CRISTMAS (Irving Berlin) — Composição clássica do grande compositor norte americano Irving Berlin, considerado por muitos especialistas como um dos maiores escritores musicais daquele país. A canção, composta durante a década de 1940, foi sendo gravada diversas vezes por vários interpretes diferentes ao longo dos anos (sendo que a primeira versão foi lançada em 1942 por Bing Crosby). Cada um deles procurou imprimir seu toque pessoal e assim a música se incorporou definitivamente na cultura musical dos EUA, tanto que ainda hoje faz parte do repertório obrigatório de Natal que embala os norte americanos durante esta época do ano. Uma rara interpretação de Presley sobre uma música de Berlin, pois esse era um compositor muito mais gravado pela velha guarda, como Sinatra por exemplo e não se encaixava muito bem nos discos de um cantor como Elvis, que era um ídolo jovem nos anos 50. Tanto isso era uma verdade que a canção ainda seria lançada no disco natalino de Frank Sinatra, "A Jolly Christmas".

HERE COMES SANTA CLAUS (Gene Autry / Haldeman / Melka) — Ponto alto do disco e talvez a melhor música deste trabalho. Divertida, leve e ótima, a canção é um grande prazer sem culpas. Originalmente gravado pelo cowboy cantor Gene Autry nos anos 40, a melodia foi sugerida a Elvis pelos próprios executivos da RCA Victor, que já tinham os direitos sobre a música. Novamente Elvis teria que se superar e recriar uma antiga canção para os novos tempos. Mais uma da velha guarda, Elvis aqui procura antes de tudo modernizá-la e adaptá-la para melhor ser digerida por seu público jovem. Assim Elvis acrescenta um sabor novo e moderno a uma antiga música de natal. Foi lançada também em um compacto duplo denominado "Christmas With Elvis" juntamente com outras músicas deste LP em dezembro de 1957.

I'LL BE HOME FOR CHRISTMAS (Kent / Gannon / Ram) — Segue a mesma linha das outras canções deste disco. Como destaque pode-se citar a melodia e vocalização agradáveis. Foi lançada em um segundo compacto duplo extraído desse LP juntamente com outras músicas natalinas denominado "Elvis Sings Christmas Songs" em dezembro de 1957. A grande surpresa referente a esse EP foi que o mesmo acabou, sem pretensão nenhuma, atingindo o primeiro lugar nas paradas, coroando ainda mais o projeto de Parker e da RCA em colocar Elvis para cantar canções de natal! Aliás essa foi a última música gravada por Elvis para o disco no dia 7 setembro de 1957 no Radio Recorders

BLUE CHRISTMAS (Billy Hayes / Jay Jonhson) — Outro sucesso dos anos 40 cantada por Elvis neste disco. O Rei ainda apresentaria uma nova versão dessa mesma música no histórico "NBC TV Special" (Comeback Special) em 1968. A versão em questão pode ser conferida na respectiva trilha do especial de TV que trouxe o Rei de volta as apresentações ao vivo depois de uma longa ausência proporcionada pela série de filmes protagonizados por ele nos anos sessenta. Aliás os planos do Coronel Parker para esse especial visavam colocar não apenas uma música de natal na apresentação, mas todas elas! O plano inicial de Parker era fazer um programa inteiramente com canções natalinas. Inclusive chegou a sugerir a péssima idéia de vestir Elvis de Papai Noel! Imaginem o ridículo da cena! Dessa vez Elvis o ignorou pois suas sugestões não tinham mesmo o menor cabimento e nada estava mais longe do que ele e o produtor Steve Binder tinham em mente. Elvis sabia que o especial era essencial para ele, pois era a sua grande chance dar a volta por cima e não poderia ser desperdiçada de jeito nenhum. De qualquer forma "Blue Christmas" acabou entrando na edição final do programa apenas para acalmar os ânimos do velho empresário.

SANTA, BRING MY BABY BACK (Aaron Schroder / Claude DeMetrius) — Fechando o Lado A temos esta música em que o Rei pede a Papai Noel (Santa Claus) que ele traga sua pequena de volta aos seus braços. As músicas deste LP possuem um lugar próprio dentro da vasta discografia do cantor porque de certa forma expressam a inocência da sociedade americana dos anos cinqüenta, sentimento este que não iria sobreviver nos loucos anos sessenta. Se bem que nos bastidores dos estúdios havia de tudo, menos inocência. Novamente durante as gravações estourou uma nova crise entre o Coronel Parker e os compositores Leiber e Stoller. Tudo por causa de um evento sem maior importância. Elvis interrompeu as gravações das músicas natalinas para gravar uma música da dupla que ele havia encomendado durante as filmagens de "Jailhouse Rock". A canção se chamava "Don't" e foi gravada sem o conhecimento prévio de Parker. O Coronel quando soube da existência da gravação explodiu: "Pode dizer a esses caras que da próxima vez que eles levarem alguma música a Elvis sem falar comigo antes, estarão fora da carreira do garoto!" Esse fato demonstra duas coisas: a primeira era o medo que Parker tinha de perder o controle sobre a carreira de Elvis e a segunda era a forma como ele comandava a vida profissional (e diga-se de passagem também pessoal) de Elvis com mãos de ferro.

O LITLE TOWN OF BETHELEM (Redner / Brooks) — Canção em que o vocal de Presley se sobressai, expressando em notas musicais todo o sentimento e significado presentes no conteúdo da letra. Elvis tinha um sentimento religioso muito forte que se exteriorizava em músicas como essa. O acompanhamento de seus músicos é bem sutil, só o necessário para o cantor se expressar através de sua arte. De todas as músicas natalinas do LP essa sem dúvida é a mais intimista e introspectiva. O arranjo por sinal segue completamente o gênero Gospel, com o uso de órgãos e vocais em coral. Elvis por sua vez está em um bom momento, contido e concentrado, tudo resultando em uma agradável vocalização em quase capela. Merece ser redescoberta pelos novos fãs. Antes tarde do que nunca: o arranjo foi inteiramente creditado a Elvis.

SILENT NIGHT (Franz Gruber / Joseph Mor) — A última faixa natalina do disco. Esta é a famosa canção alemã de natal "Noite Feliz", conhecida mundialmente. Para criar o clima adequado durante as gravações o produtor Steve Sholes resolveu trazer para dentro do estúdio uma enorme árvore de natal! Elvis até mesmo brincou com o fato pois as gravações foram realizadas em setembro e não durante o período natalino. De qualquer forma valeu pela intenção, mesmo que inocente, de Sholes. Sem dúvida "Silent Night" é um dos momentos mais belos de toda a carreira de Elvis, sua versão é belíssima e faz jus a este clássico natalino. É uma pérola de natal, sendo um dos pontos mais emocionantes de todo o disco. Sem dúvida um grande momento do Rei.

PEACE IN THE VALLEY (Thomas A Dorsey) — Em Abril de 1957 Elvis lançou um compacto duplo contendo apenas músicas Gospel intitulado "Peace In The Valley". Era a primeira vez na carreira de Elvis em que ele dedicava todo um disco apenas para músicas religiosas. Assim Elvis se posicionava como um artista que não negaria suas origens, as suas raízes. O Gospel é parte fundamental na sua formação musical, o gênero musical por excelência na gênesis de sua própria musicalidade. O compacto foi bem sucedido em seu lançamento e de certa forma abriu portas para Elvis, pois desde essa época ele almejava o sonho de gravar um álbum inteiro apenas com suas canções religiosas preferidas, coisa que faria em 1960 com "His Hand In Mine". Como "Elvis Christmas Album" só possuía oito canções, o Coronel Parker resolveu incluir todas as músicas do projeto "Peace In The Valley" para completar cronologicamente o LP. E assim foi feito. Esta é a canção que deu título ao compacto e foi lançada originalmente em 1937 por Mahalia Jackson. Outra famosa versão surgiria ainda em 1951 com o cantor Red Foley. Foi essa versão aliás, uma das preferidas de Elvis, que o fez gravá-la novamente em estúdio. O cantor inclusive fez questão de apresentá-la ao vivo na televisão americana durante os anos 50 no programa de Ed Sullivan.

I BELIEVE (Drake / Graham / Shirl / Stillman) — A segunda música presente no disco que fez parte de "Peace In The Valley" (EPA 4054). Extremamente emocional para Elvis, a música ganha em grandiosidade e emoção, principalmente porque notamos nitidamente como ele se entregava completamente, de corpo e espírito, a esse sentimento religioso. Música Gospel sempre teve um significado muito grande para Elvis, provavelmente foi o primeiro tipo de canção que ele ouviu, nos cultos da assembléia de Deus, do qual fazia parte. Tinha um carinho especial por elas tendo gravado três discos exclusivamente com este gênero musical no decorrer de sua carreira: "His Hand in Mine" em 1960, "How Great Thou Art" em 1967 e "He Touched Me" em 1972. Curiosamente todos os prêmios Grammy da carreira de Elvis Presley lhes foram dados por trabalhos religiosos!

TAKE MY HAND PRECIOUS LORD (Thomas A Dorsey) — Outra que faz parte de "Peace In The Valley". "Take My Hand Precious Lord" foi particularmente complicada de finalizar. Depois de várias tentativas Elvis se deu por satisfeito e após ouvir todos os takes da sessão escolheu a que melhor lhe agradava. Mas intimamente, como confidenciou a Scotty Moore, não ficou muito certo sobre a escolha. Isso demonstra como Elvis trabalhava fixamente sobre uma canção até achar a versão definitiva. Estas quatro canções incluídas em "Peace In The Valley" foram a materialização de um dos sonhos de infância de Elvis, pois desde de criança ele almejava ser cantor de músicas religiosas. Mas de sua infância Elvis também trouxe outra ambição, essa bem menos, digamos, sacra. Na infância, ao mesmo tempo em que sonhava brilhar no mundo gospel americano, Elvis guardava também outra ambição: ser patrulheiro rodoviário! Aliás ao longo dos anos ele alimentou esses dois sonhos, o primeiro ao cantar várias canções religiosas em seus discos e o segundo colecionando uma quantidade incrível de insígnias policiais.

IT IS NO SECRET (Stuart Hamblem) — A última canção do LP é outra que também foi retirada de "Peace In The valley". A versão original foi lançada em 1950 pelo grupo Bill Kenney of the Ink Spots & The Song Spinners. A versão de Elvis Presley foi gravada no dia 19 de janeiro de 1957 em Hollywood. Estas músicas, apesar de serem resultado de um trabalho diferente de Elvis se encaixaram bem dentro do disco principalmente pelo conteúdo de suas letras. Um ótimo desfecho para o disco que se transformou em um dos mais reeditados da carreira de Elvis. Só nos EUA estima-se que "Elvis Christmas Album" foi relançado mais de 30 vezes ao longo dos anos, um recorde até mesmo para Elvis Presley, um dos artistas mais relançados da história da música mundial! Não é por menos que esse também é um dos discos mais vendidos de sua carreira.

Ficha Técnica: "Elvis Christmas Album" - Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Millie Kirkham (vocais) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 05 a 07 de setembro de 1957 / Data de Lançamento: novembro de 1957 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) # - (UK). "Peace In The Valley" - Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / Dudley Brooks (piano) / Hoyt Hawkins (órgão) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 12 a 13 de janeiro de 1957 e 19 de janeiro de 1957 / Data de Lançamento: abril de 1957 / Melhor posição nas charts: #39 (EUA) # - (UK).

Texto escrito por PABLO ALUÍSIO - Setembro de 1999 / revisado e atualizado em novembro de 2001

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album - Discografia Brasileira

Elvis' Christmas Album - Discografia Brasileira
Pode parecer incrível, mas esse álbum de Elvis só foi lançado no Brasil em duas ocasiões! A primeira edição chegou ao nosso mercado em 1960. Depois disso ficou décadas fora do catálogo, só voltando às lojas de discos nos anos 1990, quando o formato Compact Disc invadiu o mercado fonográfico nacional. E depois disso nunca mais foi relançado, o que diferenciava muito com o que aconteceu na discografia americana, pois por lá o álbum ganhava uma nova edição a cada ano. Pelo visto o público brasileiro realmente não apreciou muito ouvir Elvis cantando músicas de natal! Não teve boa quantidade de cópias vendidas por aqui!

Pois bem, em 1960 tivemos o primeiro Elvis' Christmas Album brasileiro. Perceba que ele foi lançado com três anos de atraso em relação ao original dos Estados Unidos. Também ganhou um título nacional denominado "O Natal de Elvis". Afinal o povo brasileiro, de maneira em geral, não sabia falar inglês. Tinha que traduzir mesmo para o consumidor saber do que se tratava. E não parou por aí. A edição norte-americana era cheia de luxos, com um belo encarte interno com diversas fotos coloridas de Elvis. Era realmente um álbum, desses de abrir a capa interna, ter fotos de alta qualidade, etc. Material de muito bom gosto. 

Na edição brasileira não tinha nada disso. Era um disco simples, comum, sem fotos internas. Também não tinha capa dupla. Era o básico apenas. Até a capa decidiram mudar. Pegaram uma das fotos que vinha internamente no disco original dos americanos e colocaram como capa desse LP no Brasil. Tudo simplificado, sem luxo nenhum. Pelo visto os executivos aqui no Brasil não gostaram da capa original, aquela vermelha com a árvore de natal e os presentes embaixo dela. Devem ter achado a direção de arte brega por aqui. 

A segunda edição nacional do disco chegou ao nosso mercado em 1992 na versão compact disc. Aqui já era totalmente fiel ao original americano. Inclusive com encarte bem produzido, trazendo todas as fotos do álbum Made in USA de 1957. Eu me recordo que ele foi lançado em um minipacote da BMG no Brasil. Nesse mesmo lote foram relançados os dois primeiros discos de Elvis e o Elvis Golden Records. E depois disso esse álbum nunca mais foi lançado em nosso mercado e com o fim das lojas de discos provavelmente nunca mais será reeditado em nosso país. Algo realmente a se lamentar. 

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 23 de abril de 2024

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album - Sessão de Gravação

Elvis' Christmas Album - Sessão de Gravação
Elvis ainda estava acertando os detalhes finais da trilha sonora de Jailhouse Rock quando foi levado para os estúdios da RCA na Califórnia para a gravação de um punhado de músicas natalinas. Era um projeto que fugia bastante da imagem que ele tinha naquele ano. Veja, Elvis havia herdado a coroa de rebeldia que um dia pertenceu a James Dean e isso se consolidava muito bem até mesmo no cinema. Só que de repente, meio do nada, ele entrava em estúdio para gravar músicas de natal. Foi algo que realmente pegou muita gente de surpresa. 

Elvis, que era rápido no gatilho no que dizia respeito aos estúdios de gravação de seus discos, terminou tudo em apenas 3 noites no Radio Recorders, em West Hollywood, na Califórnia. Ele finalizou tudo rapidamente entre os dias 5 a 7 de setembro de 1957. A produção dessa sessão ficou a cargo de Steve Sholes. O veterano produtor não interferiu muito. E isso se reflete nas músicas. Se não fosse a temática das letras poderíamos dizer que o materal era bem de acordo com a sonoridade de Elvis na época. Havia rock, blues e pop, sem problemas. O diferencial é que nas letras ele falava de Papai Noel e coisas de natal, mas no geral, as canções eram bem joviais. Um jovem fã de Elvis ouviria o álbum numa boa, sem problemas. E essa era sem dúvida a intenção da RCA Victor. 

Esse disco contou apenas com a banda habitual de Elvis, os que estavam sempre ao seu lado gravando o material dito convencional. Assim Bill Black estava no contrabaixo, Scotty Moore na guitarra e DJ Fontana na bateria. Esse era o núcleo duro dos músicos de Elvis, aqueles que estavam com ele desde os tempos da Sun Records. 

A novidade veio na presença de Millie Kirkham. Dona de uma voz maravilhosa, ela se juntou aos Jordanaires para trazer um lado feminino nos vocais de apoio. E completando a equipe, Dudley Brooks veio para tocar o piano. Nas primeiras gravações de Elvis na RCA o próprio cantor havia tocado piano em algumas sessões, mas isso seria trabalhoso demais para ele, que ainda atuava muito na criação dos arranjos das músicas. Assim, pelo menos nessa sessão, ele apenas atuou como cantor, mas claro, sem deixar de lado seu trabalho informal como produtor e arranjador de todas as músicas. 

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album - Letras

Santa Claus is Back in Town (Leiber - Stoller) - Christmas, Christmas, Christmas, / Well, it's Christmas time pretty baby / And the snow is falling on the ground / Well, it's Christmas time pretty baby / And the snow is falling down / Well you be a real good little girl / Santa Claus is back in town / Got no sleigh with reindeer / No sack on my back / You're gonna see me comin' in a big black cadillac / Oh, it's Christmas time pretty baby / And the snow is falling on the ground / Well you be a real good little baby / Santa Claus is back in town / Hang up your pretty stockings / And turn off the light / Santa Claus is comin' down your chimney tonight / Oh, it's Christmas time pretty baby / And the snow is falling on the ground / Well you be a real good little baby / Santa Claus is back in town / Christmas, Christmas, Christmas, / (Jerry Leiber Music Co, Mike Stoller Music Co, ASCAP) 2:22 - Data de gravação: 7 de setembro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood.

White Christmas (Irving Berlin) - I'm dreaming of a white Christmas, / Just like the ones I used to know. / Where those tree-tops glisten, / And children listen / To hear sleighbells in the snow. / I'm dreaming of a white Christmas, / With every Christmas card I write, / May your days be merry and bright, / And may all your Christmases be white / I'm dreaming of a white Christmas, / Just like the ones I used to know. / May your days may your days may your days be merry and bright, / And may all your Christmases be white. / (Irving Berling Music Corp, ASCAP) 2:23 - Data de gravação: 6 de setembro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood.

Here Comes Santa Claus (Right Down Santa Claus Lane) (Autry - Haldeman) - Here comes Santa Claus, here comes Santa Claus, / Right down Santa Claus Lane / Vixen, Blitzen, all his reindeer / Pulling on the reins. / Bells are ringing, children singing, / All is merry and bright. / Hang your stockings and say a prayer, / 'Cause Santa Claus comes tonight / Here comes Santa Claus, here comes Santa Claus, / Riding down Santa Claus Lane / He's got a bag that's filled with toys / For boys and girls again. / Hear those sleigh bells jingle jangle, / What a beautiful sight. / Jump in bed and cover up your head, / Because Santa Claus comes tonight. / Here comes Santa Claus, here comes Santa Claus, / Riding down Santa Claus Lane. / He doesn't care if you're a rich or poor boy, / He loves you just the same. / Santa knows that we're God's children, / That makes everything right. / Fill your hears with Christmas cheer, / 'Cause Santa Claus comes tonight / Well, here comes Santa Claus, here comes Santa Claus, / Riding down Santa Claus Lane / He'll come around when the chimes ring out / It's Christmas morn again. / Peace on Earth will come to all / If we just follow the light / Let's give thanks to the Lord above, / 'Cause Santa Claus comes tonight / 'Cause Santa Claus comes tonight / (Warner Bros Music Corp, Western Music ASCAP) 1:54 - Data de gravação: 6 de setembro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood.

I'll Be Home for Christmas (Al Kent - Don Gannon) - I'll be home for Christmas, / You can plan on me. / Please have snow and mistletoe / And presents for the tree. / Christmas Eve will find me / Where the love light leads. / I'll be home for Christmas, oh yes / If only in my dreams / (Gannon & Kent Music Co, ASCAP) 1:53 - Data de gravação: 7 de setembro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood.

Blue Christmas (Billy Hayes / Jay Johnson) - I'll have a Blue Christmas without you / I'll be so blue thinking about you / Decorations of red on a green Christmastree / Won't be the same dear, if you're not here with me / I'll have a Blue Christmas that's certain / And when that blue heartache starts hurtin' / You'll be doin' all right, with your Christmas of white, / But I'll have a blue, blue Christmas / (Polygram International, ASCAP) 2:07 - Data de gravação: 5 de setembro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood.

Santa Bring My Baby Back To Me (Aaron Schroder / Claude DeMetrius) - Santa bring my baby back to me / Santa bring my baby back to me / I don't need a lot of presents / To make my Christmas bright / I just need my baby's arms / Wound around me tight / Oh oh santa hear my plea / Santa bring my baby back to me / Santa bring my baby back to me / The Christmas tree is ready / The candles all aglow / But with my baby far away / What good is mistletoe / Oh oh Santa, hear my plea / Santa bring my baby back to me / Santa bring my baby back to me / Please make these reindeer hurry / Well their time is drawing near / It sure won't seem like Christmas / Until my baby's here / Fill my sock with candy / And a bright and shiny toy / You wanna make me happy and fill my heart with joy / Then Santa, hear my plea / Santa bring my baby back to me / Santa bring my baby back to me / Please make these reindeer hurry / Well their time is drawing near / It sure won't seem like Christmas / Until my baby's here / Fill my sock with candy / And a bright and shiny toy / You wanna make me happy and fill my heart with joy / Then Santa, hear my plea / Santa bring my baby back to me / Santa bring my baby back to me / Santa bring my baby back to me / Then Santa, hear my plea / Santa bring my baby back to me / (Gladys Music, Rachel's Own Music ASCAP) 1:51 - Data de gravação: 7 de setembro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood.

O Little Town of Bethlehem (Redner / Brooks) - Oh little town of Bethlehem, how still we see thee lie / Above thy deep and dreamless sleep the silent stars go by / Yet in thy dark streets shineth, the everlasting light / The hopes and fears of all the years are met in thee tonight / For Christ is born of Mary, and gathered all above / While mortals sleep the zkeep their watch of wondering love / Oh morning stars together, proclaim thy holy birth. / And praises sing to God the king, and peace to men on earth / Oh little town of Bethlehem, how still we see thee lie / Above thy deep and dreamless sleep the silent stars go by / Yet in thy dark streets shineth, the everlasting light / The hopes and fears of all the years are met in thee tonight / (Elvis Presley Music, BMI) 2:35 - Data de gravação: 7 de setembro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood.

Silent Night (Mohr - Gruber) - Silent night, holy night. / All is calm, all is bright. / 'Round yon virgin mother and child. / Holy infant so tender and mild. / Sleep in heavenly peace, / Sleep in heavenly peace / Silent night, holy night. / Shepherds quake at the sight. / Glorious strains from Heaven afar / Heavenly Hosts sing alleluia. / Christ the Saviour is born, / Christ the Saviour is born. / (Elvis Presley Music, BMI) 2:23 - Data de gravação: 7 de setembro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood.

(There Will Be) Peace In The Valley (For Me) (Thomas A. Dorsey) - Oh well, I’m tired and so weary / But I must go alone / Till the lord comes and calls, calls me away, oh yes / Well the morning's so bright / And the lamp is alight / And the night, night is as black as the sea, oh yes / There will be peace in the valley for me, some day / There will be peace in the valley for me, oh Lord I pray / There'll be no sadness, no sorrow / No trouble, trouble I see / There will be peace in the valley for me, for me / Well the bear will be gentle / And the wolves will be tame / And the lion shall lay down by the lamb, oh yes / And the beasts from the wild / Shall be lit by a child / And I'll be changed, changed from this creature that I am, oh yes / There will be peace in the valley for me, some day / There will be peace in the valley for me, oh Lord I pray / There'll be no sadness, no sorrow / No trouble, trouble I see / There will be peace in the valley for me, for me / (Unichapell Music, BMI) 3:21 - Data de gravação: 13 de janeiro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood.

I Believe (Erwin Drake - Irvin Graham - Jimmy Shirl - Al Stillman) - I believe for every drop of rain that falls / A flower grows / I believe that somewhere in the darkest night / A candle glows / I believe for everyone who goes astray, someone will come / To show the way / I believe, I believe / I believe above a storm the smallest prayer / Can still be heard / I believe that someone in the great somewhere / Hears every word / Everytime I hear a new born baby cry, / Or touch a leaf or see the sky / Then I know why, I believe / Everytime I hear a new born baby cry, / Or touch a leaf or see the sky / Then I know why, I believe / (Gentleman Jim Co, ASCAP) 2:05 - Data de gravação: 12 de janeiro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood.

Take M Hnd Pecious Lord (Thomas A. Dorsey) - Precious Lord, take my hand / Lead me on, let me stand / I'm tired, I’m weak, I’m lone / Through the storm, through the night / Lead me on to the light / Take my hand precious Lord, lead me home / When my way grows drear precious Lord linger near / When my light is almost gone / Hear my cry, hear my call / Hold my hand lest I fall / Take my hand precious Lord, lead me home / When the darkness appears and the night draws near / And the day is past and gone / At the river I stand / Guide my feet, hold my hand / Take my hand precious Lord, lead me home / Precious Lord, take my hand / Lead me on, let me stand / I'm tired, I’m weak, I’m lone / Through the storm, through the night / Lead me on to the light / Take my hand precious Lord, lead me home / (Warner Tamerlane Corp, BMI) 3:16 - Data de gravação: 13 de janeiro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood.

It Is No Secret (What God Can Do) (Stuart Hamblin) - The chimes of time ring out the news, / Another day is through. / Someone slipped and fell. / Was that someone you? / You may have longed for added strength, / Your courage to renew. / Do not be disheartened, / For I have news for you. / It is no secret what God can do. / What He's done for others, He'll do for you. / With arms wide open, He'll pardon you. / It is no secret what God can do. / There is no night for in His light / You never walk alone. / Always feel at home, / Wherever you may go. / There is no power can conquer you / While God is on your side. / Take Him at His promise, / Don't run away and hide / It is no secret what God can do. / What He's done for others, He'll do for you. / With arms wide open, He'll pardon you. / It is no secret what God can do / (MCA Corp, BMI) 3:53 - Data de gravação: 19 de janeiro de 1957 - Local: Radio Recorders, Hollywood.

Elvis Christmas Album - Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Dudley Brooks (piano) / Millie Kirkham (vocais) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 05 a 07 de setembro de 1957 / Data de Lançamento: novembro de 1957 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) # - (UK). "Peace In The Valley" - Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / Dudley Brooks (piano) / Hoyt Hawkins (órgão) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 12 a 13 de janeiro de 1957 e 19 de janeiro de 1957 / Data de Lançamento: abril de 1957 / Melhor posição nas charts: #39 (EUA) # - (UK).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Elvis Presley - Elvis Christmas Album - Discografia Americana

Elvis Christmas Album (1957)
Esse foi o primeiro disco de natal de Elvis Presley. Obviamente o Coronel Parker via esse tipo de lançamento como uma boa oportunidade para vender bem no final de ano. Além disso Elvis não tinha grandes objeções a fazer, pelo menos nessa época, porque ele pessoalmente também gostava muito das festas natalinas. Claro, não era algo que iria se esperar de um roqueiro rebelde, a imagem que Elvis cultivava naqueles tempos, porém o Coronel Parker, já nesse período da carreira de Elvis, planejava mudar sua imagem para que ela fosse mais aceita em todos os setores da sociedade americana e não apenas entre jovens com roupas de couro e brilhantina no cabelo. Ampliar o mercado para Elvis, alcançar outros tipos de consumidores para sua música. Essa era claramente a estratégia do empresário. Do ponto de vista comercial uma visão acertada. Com edição de luxo, encartes internos com diversas fotos bonitas, esse disco consistia na seguinte seleção musical:

ELVIS CHRISTMAS ALBUM
SANTA CLAUS IS BACK IN TOWN / WHITE CHRISTMAS /HERE COMES SANTA CLAUS /   'LL BE HOME FOR CHRISTMAS / BLUE CHRISTMAS / SANTA BRING MY BABY BACK /OH LITTLE TOWN OF BETHLEHEM / SILENT NIGHT / (THERE'LL BE) PEACE IN THE VALLEY / I BELIEVE / TAKE MY HAND, PRECIOUS LORD / IT IS NO SECRET (WHAT GOD CAN DO)

Singles extraídos deste disco:

Blue Christmas / Wooden Heart (1964) - Na era do vinil era comum o lançamento de diversos singles, compactos, extraídos desses LPs. Curiosamente dois singles fora de época foram extraídos do Elvis Christmas Album. O primeiro seria lançado em 1964 trazendo a faixa "Blue Christmas" no lado A e Wooden Heart do disco "G.I. Blues" no lado B. Essa segunda canção nada tinha a ver com festas natalinas, porém era um grande hit de Elvis na Europa, principalmente na Alemanha. Assim a RCA Victor encaixou a faixa para ajudar nas vendas.

Santa Claus Back in Town / Blue Christmas (1965) - No final de 1965 outro single com faixas do Elvis Christmas Album chegou no mercado. Agora as duas canções seriam retiradas diretamente do disco original. A capa seguia basicamente o mesmo design do compacto anterior. É importante ressaltar que o próprio Elvis Christmas Album também era relançado com frequência ao longo dos anos. Não por acaso acabou se tornando um dos álbuns mais vendidos da carreira de Elvis, justamente por causa dessas reedições anuais. Quando chegava novembro a RCA Victor já colocava suas fábricas para rodar novas edições desse mesmo LP. Era um tipo de lançamento que sempre trazia retorno financeiro para a gravadora.

Compactos Duplos (EPs) extraídos desse álbum:

Elvis Sings Christmas Songs (1957)
Santa Bring my Baby Back to Me
Blue Christmas
Santa Claus Back in Town
I'll Be Home For Christmas

Christmas With Elvis (1957)
White Christmas
Here Comes Santa Claus
O'Little Town of Bethlehem
Silent Night

Além dos singles a RCA Victor ainda colocou no mercado em 1957 dois compactos duplos com canções do Elvis Christmas Album. Eram lançamentos mais baratos, ideais para quem não queria gastar muito comprando a edição em vinil do LP. Curiosamente também seria uma boa opção para quem estivesse em busca apenas das músicas natalinas, uma vez que no LP o Coronel Parker ainda encaixou faixas do EP gospel Peace In The Valley. Para falar a verdade para o colecionador da época era mais negócio comprar esses dois EPs, pois assim não iria comprar duas vezes as músicas do Peace In The Valley, caindo na manobra do velho Coronel Parker em vender duas vezes o mesmo produto. 

Pablo Aluísio.

domingo, 14 de abril de 2024

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album - Parte 5

"(There'll Be) Peace in the Valley (For Me)" foi escrita e composta por Thomas Andrew Dorsey na primeira metade do século XX. Esse músico tem uma história interessante. Ele nasceu em uma família muito religiosa no chamado cinturão bíblico do sul dos Estados Unidos. Só que ele ganhava a vida mesmo cantando e tocando blues, a música do Diabo. Esse dualismo iria perdurar durante toda a sua carreira. E essa música foi um de seus maiores sucessos em vida e se tornou ainda mais conhecida depois que Elvis a gravou e a apresentou em um popular programa de TV nos anos 50, na mesma noite em que ele cantou "Don't Be Cruel" para todo o país. 

"It Is No Secret (What God Can Do)" é outra canção gospel que entrou nesse disco natalino. Curiosamente a RCA Victor só decidiu colocá-la no disco no último momento, poucas horas antes do álbum começar a ser prensado nas fábricas da multinacional. O produtor Steve Sholes acreditava que ela deveria ser melhor trabalhada pois não tinha ficado contente com a gravação original. Só que na pressão e na pressa de se colocar o disco até dezembro nas lojas, para aproveitar as vendas de fim de ano, decidiu-se finalmente por inclui-la no disco. 

Elvis' Christmas Album foi um grande sucesso de vendas e surpreendeu muita gente, inclusive a própria RCA Victor e Elvis. Ninguém poderia supor que iria vender tanto. No máximo acreditava-se que iria vender bem, gerar um pequeno lucro e melhorar a imagem de Elvis perante os mais velhos. Só que no final de tudo acabou se tornando o álbum mais vendido de sua carreira até aquele momento, superando as vendas do primeiro LP, do segundo e da trilha sonora de "Loving You"! 

Para se ter uma ideia melhor do sucesso comercial do LP basta dizer que ele só iria ser superado em 1961 quando chegou nas lojas de discos a trilha sonora do filme "Feitiço Havaiano" (Blue Hawaii). Acompanhando o grande êxito comercial do filme, essa trilha havaiana de Elvis vendeu milhões de cópias, superando finalmente o disco natalino de 1957. Nos anos seguintes o Coronel Parker iria sempre sugerir a Elvis a gravação de um novo disco de Natal, mas ele sempre arranjava um jeito de não gravar nada nesse estilo, só concordando com o empresário em 1971 quando finalmente entraria em um estúdio para gravar seu segundo disco natalino. Só que essa é uma outra história...

Pablo Aluísio.

sábado, 13 de abril de 2024

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album - Parte 4

"Here Comes Santa Claus" já era uma música bem antiga quando Elvis resolveu gravar essa sua nova versão. Essa canção na realidade era bem recorrente entre artistas do circuito country. E as pessoas esquecem que foi nesse mesmo circuito que Elvis realizou suas primeiras apresentações. Eu sempre gostei dessa canção. Ela chegou a ser usada em um clip de Natal nos anos 80 pela extinta Rede Manchete. Todo Natal ela entrava na programação, por essa razão eu criei um certo vínculo emocional e sentimental com ela. Muito pueril, mas igualmente muito carismática. 

"Santa Bring My Baby Back (To Me)" novamente traz em sua letra um pedido para o Papai Noel. Para quem anda esquecido das aulinhas de inglês, ele é conhecido nos Estados Unidos como Santa Claus, por isso o nome Santa em seu título. E o pedido dessa vez era para trazer a garota do autor da letra de volta. Se já não bastassem os milhares de presentes para as crianças que o Papai Noel tinha que distribuir na noite natalina, ainda tinha que dar uma de cupido também! Acho que confundiram as funções dos dois personagens!  

"O Little Town of Bethlehem" é muitas vezes creditada como uma música gospel em sua essência. Embora haja diferenças sutis, eu penso que ela seria melhor enquadrada como uma música natalina mesmo. As referências da letra evocam justamente o nascimento de Jesus, que ninguém sabe ao certo em que data se deu, mas que foi convencionada pela Igreja Católica em seus primórdios como tendo sido em dezembro. Historiadores acreditam que ele nasceu mesmo em março, por causa de pequenos detalhes colocados no evangelho. Então agora estaríamos em plena época do Natal! Mas enfim, essa é uma questão que não nos interessa nesse texto. O que vale salientar aqui é a boa performance de Elvis, embora muitos critiquem a canção por ser excessivamente melancólica. 

"Take My Hand, Precious Lord"  faz parte do pacote "Peace in The Valley", ou seja, foi lançada originalmente naquele compacto duplo (EP) que chegou às lojas americanas nos anos 50. Esse foi, não deixo de lembrar, o primeiro trabalho exclusivamente religioso da discografia de Elvis. E isso causou uma certa perplexidade nos jovens e na sociedade da época. Afinal o que estaria fazendo aquele roqueiro rebolativo e com cabelos cheios de brilhantina ao cantar esse tipo de material? Seria alguma gozação com os cristãos da época, os mesmos que o estavam acusando de corromper os bons costumes da juventude? Claro que nao, Elvis era mesmo uma pessoa religiosa, mas nem todo mundo entendeu isso perfeitamente. Nao faltaram acusações infundadas contra o cantor. 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album - Parte 3

"Silent Night" é a nossa velha e conhecida "Noite Feliz". Impossível não conhecer, pelo menos se você conhece a tradição das músicas de natal. Isso tudo é fruto de uma época mais inocente, de um mundo que não existe mais. Não consigo imaginar um rockstar ou um popstar incluindo uma canção como essa em um disco nos dias atuais. Seria logo chamado de brega e coisas piores. Uma pena essa mentalidade. A música é linda e tem uma melodia que gruda em sua mente para nunca mais esquecer. 

"Blue Christmas" seria utilizada por Elvis onze anos depois dessa gravação original. O Coronel Parker colocou na cabeça que o especial de TV que Elvis iria realizar na NBC em 1968 deveria ser um especial de natal. Elvis deveria entrar vestido de Papai Noel no palco, distribuir presentes para crianças e entre um e outro presente distribuído ele iria cantar suas músicas natalinas. A NBC achou a ideia absurda e até mesmo idiota. Ainda bem que dessa vez Elvis não embarcou nas maluquices do Coronel. O NBC TV Special seria um sucesso justamente por não ir por esse caminho. Só que para não desagradar completamente Parker, a NBC concordou em encaixar uma canção natalina. Justamente essa que aqui estou comentando. Uma boa música, caiu bem. 

"I'll Be Home for Christmas" fala em voltar para casa, para o lar, no natal. Em 1957, no mesmo ano em que essa faixa foi gravada, Elvis comprou a mansão Graceland. Ele tinha 22 anos de idade e foi nesse natal que passou justamente as primeiras festividades natalinas ao lado de seus pais em Graceland. Foi o primeiro natal na sua querida casa. O mundo parecia belo e tudo corria bem para ele. Tinha uma carreira de sucesso, estava ao lado de sua querida mãe Gladys e o futuro parecia muito promissor. Sem dúvida o natal de 1957 foi muito feliz para ele, claro com esse álbum natalino tocando ao fundo enquanto Elvis recebia todos os seus convidados para uma ceia de natal que nunca mais iria esquecer. 

"I Believe" é uma musica gospel e não fez parte das gravações originais desse disco natalino. Na verdade ela foi colocada no álbum para completar o tempo do disco. A gospel music faz parte mesmo do EP Peace in The Valley, só com músicas religiosas, o primeiro trabalho gospel da carreira de Elvis. Como natal é Jesus e Jesus é natal, a RCA resolveu encaixar tudo no lado B, afinal apesar dos esforços, Elvis não conseguiu gravar material suficiente para todo um LP. A RCA então deu seu jeito para o disco ser completado. 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album - Parte 2

O disco abre com "Santa Claus Is Back in Town", uma faixa que é puro blues. Dois terços da população da cidade de Memphis era formada por pessoas negras. Isso dá uma ideia da grande influência cultural dessa parcela do povo na cultura da cidade de uma forma em geral. É claro que o jovem Elvis absorveu tudo isso. Ele ouvia com regularidade as estações negras da cidade. Elvis nunca foi um homem racista, muito pelo contrário. Ele sabia o que tinha ou não qualidade musical. E havia muita qualidade nas gravações dos artistas black. Obviamente, tudo isso, toda essa influência, passou para a sua própria musicalidade. O blues nasceu nas grandes plantações de algodão do sul. Era um lamento dos escravos negros que foram traficados para a América do Norte por séculos. Era cultura preta em sua mais pura essência.

Agora imaginem um homem branco americano, de classe média, dos anos 50, comprando esse disco natalino, levando para casa, para ouvi-lo pela primeira vez. Um sujeito que poderia até mesmo se considerar um conservador. De repente, ele coloca o disco para tocar e o que ele ouve? Um blues visceral cantado por Elvis! A letra até poderia soar bem de acordo com a cultura média branca da época, mas o som, a musicalidade, era pura black music. Não me admira em nada que houve até mesmo boicotes contra o álbum. Quem era racista não admitiria uma coisa dessas, ainda mais sendo consumido pelas suas jovens fiilhas adolescentes no sul dos Estados Unidos, onde, nem preciso dizer, era muito presente o racismo nos lares americanos. Uma situação social realmente deplorável.

Já o Coronel Parker queria um disco natalino bem tradicional. E para se ter um repertório nesse estilo, era necessário também apelar para os grandes compositores clássicos. Poucos compositores foram tão clássicos dentro da cultura musical dos Estados Unidos do que Irving Berlin. Um compositor sutil, elegante, de músicas que ficaram para sempre gravados dentro da mais alta cultura dos Estados Unidos. Justamente o que temos aqui na segunda faixa, "White Christmas". Elvis deve ter sentido o peso de gravar uma faixa como essa, embora clássicos não tenham sido uma novidade para ele. Presley já havia flertado com essa linha musical, até mesmo no lado B do disco "Loving You". Já havia gravado, por exemplo, Cole Porter. De qualquer forma, a gravação é excelente e do mais alto nível, tudo obviamente, com um toque do próprio Elvis e seu estilo musical. Pura cultura da tal elite branca da época.

O álbum assim abria com duas faixas bem representativas dos dois lados culturais da América. Mesclava a cultura negra e a cultura branca. Sem dúvida, era algo que não se esperaria de um disco natalino naqueles tempos. A década de 1950 foi uma das mais conservadoras e tradicionais da história americana. Os costumes culturais e sociais de segregação racial imperavam dentro daquela comunidade. Elvis surgira assim como um verdadeiro desbravador, um cara branco que ousou misturar tudo com a negritude dos guetos de Memphis. E tornou isso a fonte principal de sua música. Grande parte de sua genialidade artística veio justamente dessa mistura de culturas tão distintas e historicamente tão separadas.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de abril de 2024

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album - Parte 1

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album - Parte 1
Imagine hoje em dia um empresário colocando o roqueiro mais popular do mundo para gravar um disco apenas com músicas natalinas! Soaria para muitas pessoas, como algo fora do normal, algo até mesmo esdrúxulo. Pois foi exatamente isso que o Coronel Parker fez com Elvis Presley em 1957. Temos que ter em mente que os tempos eram os outros. Os anos 50 traz outro contexto histórico. Então não soava tão estranho assim, até porque muitos cantores populares da época também gravavam discos de Natal. Parker não precisou de muito trabalho para convencer Elvis a gravar um disco apenas com músicas de conteúdo natalino. E lá foi o jovem cantor, o rockstar, gravar esse tipo de música.  

Comercialmente, era algo muito vantajoso, porque as vendas do fim de ano estavam logo ali e era o forte do comércio. Pensando bem, um disco natalino com o jovem Elvis Presley era realmente um produto comercial muito viável. E isso se provaria com os números. Esse acabou sendo um dos álbuns mais vendidos da vida de Elvis. Colecionou discos de Platina e continuou vendendo Natal após Natal durante muitos anos. Nesse aspecto, o Coronel Parker havia acertado em cheio, até porque foi muito lucrativo para ele e seu cliente, Elvis. A gravadora também agradeceu. As cópias do disco não paravam de ser vendidas nas lojas. Foi um sucesso realmente espetacular.

E se engana quem acha que é um disco ruim, muito pelo contrário. Eu vejo muita qualidade nessas gravações. Elvis conseguiu gravar blues, rock e outros estilos usando letras natalinas. É um feito e tanto. Até hoje, ao ouvir essas faixas, eu fico admirado com a versatilidade desse jovem cantor de rock. Era um artista acima da média. Realmente surpreende a qualidade de seu trabalho dentro dos estúdios. 

Elvis Presley não chegou a gravar músicas natalinas suficientes para completar um álbum, mas a RCA daria um jeito nisso. No lado B, colocaria músicas religiosas que ele havia gravado para o EP "Peace in the Valley". As músicas tinham semelhanças de temas, afinal o Natal não deixava de ser um feriado religioso. E assim foi elaborado esse disco que trouxe muito êxito comercial para Elvis e principalmente para o velho Coronel Parker, que não perdia mesmo uma chance de  ter bons lucros!

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Elvis Presley - A Harley-Davidson de Elvis

Tendo uma origem muito humilde, Elvis assim que começou a ganhar algum dinheiro como cantor, começou a realizar alguns antigos sonhos de consumo. Embora fosse louco por carros, Cadillacs em especial, ele tinha também verdadeira adoração por motos. Como era um jovem de bom gosto assim que lhe caiu em mãos seu primeiro grande pagamento da Sun Records Elvis foi até um loja de Memphis especializada, de propriedade de Tommy Taylor, para comprar sua primeira moto, uma Harley-Davidson, é claro.

Já naquela época a marca era um dos símbolos do país. Possante, barulhenta e com força, a Harley era o sonho de todo jovem aspirante a se tornar um clone de Marlon Brando em seu papel no filme “O Selvagem”.A primeira Harley-Davidson de Elvis foi um modelo Harley 165. Ele fez um financiamento e a adquiriu em suaves prestações de US$ 47 dólares mensais. Essa era considerada uma moto de viagem, que tinha grande autonomia, podendo se deslocar por grandes distâncias sem grande consumo de combustível. Certamente Elvis ao comprá-la pensava em utilizar a moto para suas turnês, pelo menos quando se deslocava a cidades próximas a Memphis. A ideia não era do agrado de Gladys, sua mãe, que definitivamente odiava motocicletas pois tinha medo de que seu filho viesse a se acidentar. De qualquer modo Elvis ficou por longo período com a Harley 165. Muitas vezes gostava de viajar com ela ao lado do carro de sua banda, já que Elvis adorava a experiência de ir de cidade em cidade pilotando sua possante Harley-Davidson. Assim ele poderia facilmente se imaginar na pele de seus ídolos James Dean e Marlon Brando. Imagine você numa cidade do interior dos EUA na década de 50 vendo Elvis Presley montado em uma Harley para fazer um show em sua cidade natal. Nada mal não é mesmo?

Depois dessa moto que Elvis particularmente tinha grande carinho por ser a primeira e a mais rodada, ele resolveu comprar uma nova motocicleta para comemorar o sucesso consolidado de seus discos, shows e filmes. Essa era uma muito mais moderna, uma Harley-Davidson modelo FLH ano 1957, em tamanho Jumbo, alimentada por um potente motor. A FLH era considerada uma sensação na época.

Forte e espaçosa poderia levar um acompanhante com todo o conforto pois seu banco traseiro era estufado e muito confortável. Era a moto preferida de Elvis para passear com suas namoradas. Ao acelerar a máquina fazia um barulho peculiar que era impossível ignorar. Elvis novamente teve problemas com ela, porque sua mãe Gadys a achava muito barulhenta e fumacenta. Essa é a moto que aparece na capa de um dos LPs de Elvis na década de 80, Elvis Rocker. Um ícone de sua carreira na década de 50.

Outra moto que foi uma de suas favoritas foi uma Harley-Davidson modelo Ironhead OHV Sportster 1957. Com silhueta aerodinâmica essa era uma moto de velocidade acima de tudo. O modelo era usado nas corridas que gostava de promover com amigos. Foi com ela que Elvis acabou batendo seus recordes de velocidade.

Ao longo da vida Elvis nunca deixaria de comprar muitas motos. Mal saía um modelo novo que lhe interessasse e ele logo se apressava para comprar. Também gostava de modelos exóticos, com duas rodas traseiras. Outra característica de seu gosto pessoal era a preferência por modelos robustos, ostensivos. Por essa razão não gostava das marcas japonesas como a Honda pois as achava compactas demais. Curiosamente em um de seus filmes, "Carrossel de Emoções", Elvis teve que andar em marcas fabricadas no Japão (Made in Japan).

Andar de moto para ele era sempre um prazer renovado. O cantor nunca deixou o hábito de andar de motocicleta. Mesmo na década de 70, quando já estava quarentão, Elvis não dispensava um passeio pelas redondezas de Graceland. Não era raro ele surpreender os fãs ao sair da mansão pilotando um novo modelo. Era acima de tudo uma paixão antiga que jamais o abandonou.Também nos anos 70 Elvis conseguiu desfrutar de uma certa tranquilidade nesses passeios. Nos anos 50 e 60 ele sempre era perseguido por fãs, admiradores, curiosos e paparazzis quando resolvia fazer seus passeios. Já nos anos 70 lhe deixavam mais em paz. Os próprios moradores de Memphis já não o importunavam mais quando andava pelas ruas da cidade. Sabiam respeitar sua privacidade. Deixá-lo em paz. Elvis adorava quando isso acontecia. Ser um superstar todos os dias, sempre, era algo cansativo. Algumas vezes ele queria ser apenas uma pessoa comum, andando com suas motos. Assim Elvis conseguia, mesmo em raros momentos, desfrutar um pouco de suas máquinas possantes.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Elvis Presley - Discografia Brasileira 1957

Elvis Presley - Discografia Brasileira 1957
1957 foi um ano ridículo para os fãs brasileiros de Elvis Presley. Imagine ser fã do cantor mais famoso do mundo e não ter acesso ao que ele está lançando nos EUA. É justamente isso que aconteceu aqui no Brasil no ano de 1957. A impressão que se passa é de que a filial da RCA em nosso país simplesmente não acreditava em Elvis como potencial de vendas. Só isso justifica o fato de não ter sido lançado nenhum álbum do cantor daquele ano no Brasil.

É óbvio que o Brasil era muito atrasado em tudo (continua sendo), mas é complicado entender porque os álbuns “Loving You”, “Elvis Christmas Album” e a trilha de “Jailhouse Rock” completa não chegou aos fãs da época. O único “lançamento” em álbum daquele ano foi “Elvis” que foi lançado no ano anterior nos EUA. Pelo menos a edição nacional seguiu os passos da americana. Para se ter uma idéia do atraso o “Elvis Christmas Album” só chegou no mercado nacional quatro anos depois, com outra capa.

Na realidade os fãs nacionais consumiram em 1957 o que havia sido lançado um ano antes, em 1956, nos EUA. Ao invés de colocar os últimos lançamentos nas lojas a RCA Brasil lançou vários compactos duplos do primeiro disco americano de Elvis e a trilha sonora em compacto duplo de “Love Me Tender”. Em relação a esses compactos duplos outra peculiaridade é que eles trouxeram uma seleção de músicas diferentes das edições americanas. Fora isso nada de novo. A salvação veio nos singles que foram lançados por aqui com relativa rapidez, seguindo fielmente as edições americanas – menos nas capas pois nem todos seguiram a direção de arte original.

Assim foram lançados cinco compactos, todos em 78 ou 45 RPM. A maior curiosidade nesse pacote foi o single “Don´t Leave Me Now / Baby I Don´t Care”, praticamente único no mundo, sem qualquer semelhança com a discografia norte-americana. Foi a forma encontrada pela RCA daqui de disponibilizar aos fãs o restante da trilha sonora de “Jailhouse Rock” que não foi lançada de forma completa como aconteceu nos EUA  (onde ganhou bela edição com todas as canções do filme no formato EP – Compacto Duplo).  Enfim, a discografia brasileira seguia aos trancos e barrancos, com atrasos, omissões e falhas, muitas falhas. Segue abaixo a relação de todos os itens lançados no Brasil em 1957:

Álbum:
Elvis
(Rip it Up / Love me / When my blue Moon Turns to Gold Again / Paralyzed / So Glad You're Mine / Old Sheep / Ready Teddy / Anyplace is Paradise / Long Tall Sally / First in Line / How do you Think I fell / How's The World Treating You)

Compactos Simples (Singles):
Too Much / Playing for Keeps
All Shook Up / That's When Your Heartaches Begin
Teddy Bear / Loving You
Jailhouse Rock / Treat Me Nice
Don´t Leave Me Now / Baby I Don´t Care

Compactos Duplos (EPs):
Elvis Presley
(Blue Suede Shoes / I Got a Woman / One-Sided Love Affair / I'm Counting On You)
Elvis Presley
(I Got a Woman / Tutti Frutti / One-Sided Love Affair / Trying to Get You)
Elvis
(Rip It Up / Love Me / Long Tall Sally / So Glad You-re Mine)
Love Me Tender
(Love Me Tender / Let Me / Poor Boy / We´re Gonna Move)

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de março de 2024

Elvis Presley - Ed Sullivan Show, 1957

Logo no começo de 1957 Elvis teve que cumprir uma série de compromissos. Anos depois ele diria ao Coronel Parker que não mais assinasse contratos em que ele tivesse que trabalhar no período que ia do Natal até seu aniversário no dia 8 de janeiro. Elvis queria esse tempo para descansar, para curtir um pouco, afinal ele era apenas um jovem como qualquer outro. Isso porém não ocorreu em 1957 e assim Elvis teve que interromper suas rápidas férias para cair na estrada novamente, gravar novas músicas e participar do último programa de TV com Ed Sullivan. No dia 4 de janeiro Elvis teve que cumprir suas obrigações com o serviço militar que se avizinhava.

Ele foi até o Hospital dos Veteranos para o exame médico. Foi classificado como apto ao serviço militar. A notícia não passou despercebida pela grande imprensa. Muitos afirmaram que ele seria dispensado para no máximo entreter as tropas. Algo que muitos artistas fizeram durante a II Guerra Mundial. A reação foi imediata. Medalhões e veteranos protestaram e foram às rádios para dizer que Elvis Presley, independente de sua fama e sucesso, deveria prestar suas obrigações com o país como qualquer outro jovem de sua idade. Isso pegou Elvis e o Coronel Parker de surpresa pois eles nunca tinham se manifestado sobre Elvis ir ou não para o exército americano. Nem mexeram pauzinhos para algum figurão liberar Elvis da farda. Essa reação negativa foi mais fruto do sensacionalismo da imprensa americana do que qualquer outra coisa. Mas como Elvis não iria de imediato para o serviço militar regular (se fosse chamado só prestaria serviço efetivo no ano seguinte), o assunto foi deixado de lado e ele seguiu em frente com sua carreira.

Dois dias depois desse exame Elvis chegou em Nova Iorque para sua última apresentação no Ed Sullivan show do canal CBS. Ao lado da banda decidiu incluir grandes sucessos como Love Me Tender, Heartbreak Hotel, Don´t Be Cruel e Hound Dog ao lado das menos famosas When My Blue Moon Turns To Gold Again e Peace In The Valley. Essa última música era um gospel que o cantor adorava e que ele pretendia gravar em breve no estúdio. Por fim ainda arranjaram espaço para encaixar Too Much, seu último single nas lojas. Nos bastidores Elvis surgiu bem mais relaxado do que das outras ocasiões.

Ela já tinha seu nome consolidado e não era apenas um novato tentando impressionar como em 1956. Para Ed Sullivan era mais uma ótima oportunidade de elevar sua audiência às alturas. Ninguém tinha ainda esquecido os números das últimas aparições de Presley em seu programa. Houve uma tentativa por parte da CBS em assinar com Elvis a realização de mais seis aparições do cantor no programa mas o Coronel Parker não demonstrou mais nenhum interesse. O velho empresário estava de olho no cinema. A TV havia se tornado um veículo muito acanhado para seus planos. Há poucos dias Elvis havia assinado com Hal Wallis, o famoso produtor de Hollywood, a realização de um novo filme na Paramount, um dos estúdios de ponta da capital do cinema. Wallis tinha grandes planos para Elvis. O Coronel também explicou sua nova filosofia para Presley: “Daqui em diante quem quiser ver você de novo que pague um ingresso de cinema”. Elvis achou ótima a idéia. Ele queria se tornar ator de cinema pois a carreira de cantor não lhe trazia muita segurança em relação ao seu futuro. Além disso ele tinha mostrado jeito para a coisa em “Love Me Tender”.

No final do programa o apresentador Ed Sullivan resolveu falar algumas palavras de apoio a Presley. O chamou de um "jovem decente" e defendeu o artista contra os que o acusavam de incentivar a delinquência juvenil. Novamente a apresentação foi campeã em audiência mostrando a força do nome Elvis Presley no mundo do entretenimento. Depois da transmissão do programa, que foi um grande sucesso, Elvis caiu na estrada novamente. As turnês eram cansativas e em alguns shows coisas inusitadas aconteceram. Em um concerto na Pennsylvania Sports Arena, bem no meio de sua apresentação alguém jogou um ovo nele que pegou seu violão em cheio, bem no alvo. Ele tentou levar na esportiva. Enquanto a casca do ovo e sua gema deslizavam pela tampa do violão, Elvis resolveu parar a música. Após fazer uma careta disse: “A maioria das pessoas que estão aqui vieram para apreciar o show. O cara que jogou o ovo nunca vai conseguir isso. O que eu quero dizer é que queremos fazer uma apresentação legal para vocês, acima de tudo”. Os engraçadinhos que jogaram o ovo foram presos pela polícia. Eram alguns valentões que afirmaram na delegacia que não gostavam de Elvis e nem de sua música. O fato logo foi esquecido e Elvis partiu em viagem novamente. Afinal eram ossos do ofício. Seu próximo compromisso era com a RCA. A gravadora queria novas músicas o mais rápido possível pois a “lata estava vazia” – tudo o que Elvis havia gravado já tinha sido lançado no mercado. Novos sucessos viriam por aí e os fãs não perderiam por esperar.

Pablo Aluísio

sexta-feira, 22 de março de 2024

Elvis Presley - Pan Pacific, 1957

Se formos comparar com o ano anterior Elvis se apresentou bem menos em 1957. A razão é bem simples de explicar. Ao assumir o compromisso de fazer dois filmes em Hollywood sobrou pouco tempo para ele cair na estrada. As filmagens de Loving You e Jailhouse Rock foram um pouco além do que estava previsto. Além disso o cantor teve que gravar as trilhas sonoras desses filmes e mais  um álbum natalino. Fazer concertos ao vivo se tornou secundário. Mesmo assim aconteceram coisas marcantes no palco nesse ano. Elvis se apresentou fora dos Estados Unidos pela primeira (e última vez). Ele foi ao Canadá por duas vezes. Fez sucesso por lá e consolidou uma carreira internacional  (por mais curta que fosse). Por essa época começaram a chegar propostas tentadoras ao escritório do Coronel Parker. Empresários de outros países como Inglaterra, França e Alemanha, queriam contratar a nova sensação da música americana para realizar turnês em seus respectivos países. O Coronel recusou uma por uma as propostas, mesmo com cachês oferecidos que equivaliam ao triplo do que Elvis vinha ganhando ao se apresentar em algumas cidades americanas. O motivo todos sabem. O Coronel Parker era imigrante ilegal e por isso não podia tirar seu passaporte. Sem passaporte nada de viagem e ele certamente não deixaria Elvis viajar sozinho pois tinha receios de que perdesse seu passe para algum empresário estrangeiro que caísse nas graças do cantor.

Em entrevistas Elvis sempre estava falando em fazer uma turnê na Inglaterra - era um de seus sonhos. O Coronel o levava na conversa dizendo que eles deveriam esperar por propostas melhores e Elvis caía na lábia de Parker. O problema é que essa proposta de fato nunca seria aceita, em hipótese alguma, pelos motivos já explicados. Ao invés de ir para a Europa Elvis voltou ao Canadá em agosto. Ele se apresentou em Vancouver no Empire Stadium. Outro sucesso de público e crítica. Depois disso fez uma pequena e restrita turnê por três cidades importantes: Seattle, Portland e Tacoma. Foram concertos sem maiores incidentes onde Elvis procurou dar o melhor de si mas sem se cansar muito.

Seu teste de fogo nesse ano aconteceu no Pan Pacific Auditorium nos dias 29 e 29 de outubro de 1957. Nesses dois concertos Elvis estava disposto a impressionar o público. Havia muitos figurões e celebridades de Hollywood na platéia. Como Elvis almejava consolidar sua carreira de ator ele procurou dar o melhor de si para mostrar toda a extensão de seu talento como performance. Ao adentrar o palco ele parecia elétrico, realmente empenhado em fazer a melhor apresentação de sua vida. Elvis não parou um só minuto, dançando, requebrando, caindo no chão, usando o microfone ora com ternura e ora com fúria. Queria colocar tudo o que havia aperfeiçoado naqueles anos todos num único concerto. Ao seu lado no palco estava um enorme e inconveniente boneco de Nipper, o cãozinho símbolo da Radio Corporation of America (RCA), sua gravadora. Elvis olhou para aquele mascote e resolveu brincar com ele. Já que não havia como ignorar aquele boneco enorme então seria melhor usá-lo como parte do show. No começo começou a cantar abraçado ao bichinho mas depois começou a rolar pelo chão com o boneco. O público foi ao delírio. Elvis ria, se insinuava, parecia se divertir como nunca! Mal sabia ele na confusão em que estava se metendo.

Foi um prato cheio para os jornais sensacionalistas. No outro dia Elvis estava sendo acusado de ter "possuído" um cachorro no meio do show! Um claro exemplo de exibicionismo erótico e barato segundo seus críticos mais ferozes. Os conservadores arrancaram os cabelos da cabeça! Ele estava incentivando atos de Zoofilia? Meu Deus prendam esse representante de Satã na terra! O que esse marginal estava afinal querendo? Denegrir toda a moral da sociedade americana? Quem ele pensava que era? A ala mais retrógrada da sociedade americana estava chocada com os acontecimentos! Um exaltado jornalista perdeu a postura e atacou ferozmente Elvis, dizendo que tal como a Juventude Hitlerista havia corroída a alma da juventude alemã, Elvis estava corroendo a juventude americana em seus valores mais fundamentais e básicos. Era a reencarnação de Hitler! Após dizer que seus fãs clubes eram centros de incentivos para orgias, drogas, bebedeiras e delinquência juvenil sugeriu que Elvis fosse contido, se possível respondendo a um pesado processo criminal. Terminou o texto ironizando afirmando que após trancafiar o "mal em pessoa" a chave deveria ser jogada fora para não haver perigo dele voltar às ruas! A notícia se espalhou rapidamente e assim Elvis se viu no meio da maior polêmica de sua carreira até então. E isso tudo porque ele apenas rolou com Nipper pelo chão durante o show! Sem dúvida muitos queriam sua cabeça numa bandeja naquela época. O pior é que ele faria um outro concerto no mesmo local na noite do dia seguinte. Sem hesitar o chefe do departamento de polícia local mandou filmar toda a apresentação. Se Elvis voltasse a fazer alguma barbaridade iria para a prisão na mesma hora! Joguem esse louco na cadeia!!! – esbravejavam os líderes religiosos pentecostais!

Quando o show começou e Elvis entrou no palco caminhando lentamente e calmamente ele se deparou com todos aqueles tiras ao redor, com alguns deles filmando cada gesto, cada detalhe. Eles queriam pegar o flagra de Elvis e Nipper naquele enlace imoral! Elvis parou, olhou tudo aquilo e deu um sorriso irônico dizendo: "Eu vou ser um anjo essa noite"! Todos riram. Anos depois Elvis brincaria dizendo que não poderia mexer nem o dedinho da mão pois isso poderia ser considerado imoral e indecente. Para os setores conservadores isso iria dar uma lição no cantor e significaria o fim de sua carreira. Quem iria comprar um disco daquele Rasputin maníaco depois de tudo aquilo?! Pensaram errado. O fato trouxe uma publicidade jamais vista a Elvis e ele ficou mais famoso ainda. Os jovens que o idolatravam agora o endeusaram completamente. Elvis era o novo James Dean, o novo rebelde, o carinha muito louco que no palco colocava pra quebrar mesmo! Ele encarnava toda a rebeldia dos jovens do mundo! O que aqueles velhos sabiam sobre música e Rock ´n´ Roll? Nada, absolutamente nada!

Um mês depois de todo esse rebuliço Elvis chegou ao Havaí pela primeira vez. As ilhas, que teriam um papel fundamental em sua carreira no futuro, o receberam de braços abertos. Foi uma viagem produtiva e divertida onde Elvis esfriou a cabeça. O fim do ano chegou e Elvis se recolheu em sua nova mansão, Graceland. Ele havia comprado a enorme casa por cem mil dólares. Era uma velha residência no mais puro estilo sulista. Elvis que era extremamente caseiro ficou duplamente gratificado. Estava ao lado de seus pais queridos, tinha vários discos e singles nas paradas e seus filmes tinham se tornado grandes sucessos de bilheteria. Não faltava mais absolutamente nada e ele se sentia feliz e realizado, tanto profissionalmente como pessoalmente. Ao contrário da imagem que seus shows no Pan Pacific construíram, a do rebelde sem causa com guitarras, a verdade pura e simples era que Elvis não era em sua vida privada uma pessoa rebelde, que queria abalar as estruturas da sociedade. Muito pelo contrário. Presley era acima de tudo um rapaz família, que adorava estar junto de seu pai e sua mãe, curtindo a privacidade de sua nova mansão. Dentro de Graceland Elvis podia relaxar completamente, sem temer qualquer tipo de invasão de sua vida privada. Dentro dos muros de sua casa ele voltava a ser o mesmo Elvis de Tupelo. Uma pessoa brincalhona, cercado pelas pessoas que ele entendia ser de plena confiança. Com Gladys ao seu lado desenvolveu uma divertida linguagem de bebê - ele falava como uma criança pequena com Gladys e ela respondia a ele no mesmo tom! Ninguém entendia nada do que falavam entre si mas invariavelmente Elvis caia no chão de tanto dar risadas com essa brincadeira. A felicidade era plena e reinava em cada canto de sua querida Graceland! Era seu sonho se tornando realidade.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de março de 2024

Elvis Presley - Shows no Canadá, 1957

Em abril de 1957 Elvis Presley realizou aquela que seria sua primeira excursão internacional. Foi no vizinho Canadá onde Elvis se apresentou em concertos nas cidades de Toronto e Ottawa. É inacreditável, mas um dos cantores mais populares de todos os tempos nunca realizou shows na Europa, nem no Japão, nem em lugar nenhum fora dos Estados Unidos. O único país estrangeiro que teve a honra de receber um show de Elvis foi justamente o Canadá! Como isso foi possível? Elvis lotaria shows em qualquer lugar no mundo tamanha era sua popularidade nessa época, mas o astro não saía de seu país de jeito nenhum! Esse fato incomum até hoje chama a atenção de estudiosos e fãs de Presley.

A verdade pura e simples é que seu empresário, o astuto Tom Parker, era um imigrante ilegal nos EUA e por isso não conseguiria tirar seu passaporte. Assim se ele não viajava, Elvis também não viajaria. Absurdo? Claro que sim. O mundo se viu privado de ver Elvis ao vivo porque em última instância seu empresário era um estrangeiro que não poderia viver nos EUA de forma legal. Aliás ele nem se chamava Tom Parker na verdade, esse era um nome falso. Ele na realidade era holandês e seu nome real era Andreas. Algumas biografias até chegam a afirmar que Parker tinha fugido de seu país natal por ter assassinado uma mulher. Verdade ou não? Hoje, passados tantos anos, fica mais complicado chegar na versão real do que de fato aconteceu.

De qualquer modo os canadenses tiveram a oportunidade de ver o grande Rei do Rock no auge de sua carreira. Elvis surgiu no palco de dourado, uma nova roupa de shows feita especialmente para os concertos mais importantes. Era um novo visual condizente com seu status de “garoto de ouro da indústria fonográfica”. Sorridente, solícito, Elvis esbanjou simpatia por onde passou. Parou para atender fãs, acenou, distribuiu gentilezas e até falou com a imprensa canadense que o tratou como se o próprio Messias tivesse chegado no solo de seu país. As apresentações foram obviamente grandes sucessos de bilheteria, lotando os locais dos concertos. O ponto alto da turnê foi seu show em Ottawa. A presença de Elvis mudou a rotina do lugar. Centenas de ônibus lotados de jovens das cidades vizinhas chegaram na cidade. Muitos não encontraram vagas nos hotéis que ficaram completamente tomados por fãs vindos de todos os lugares do país. Perto da hora do show o trânsito parou tamanha a quantidade de gente se deslocando para ir na arena onde Elvis se apresentaria. Quando o cantor subiu ao palco a gritaria foi tamanha que ninguém conseguia ouvir nada. Era ensurdecedor. Pra falar a verdade nem eles mesmos conseguiram se ouvir. Elvis e o grupo foram na garra, sem retorno nenhum, contando apenas com seus instintos. O sistema de som para concertos ao vivo na década de 50 era muito primitivo e não conseguia soar mais alto do que milhares de adolescentes gritando ao mesmo tempo – era simplesmente impossível. Como ninguém conseguia ouvir, Elvis resolveu caprichar nas poses, na dança e nos trejeitos. Se não podiam lhe ouvir pelo menos as fãs o veriam dessa forma!

A polícia local certamente não estava preparada. A multidão começou a se espremer para ficar mais perto do palco e por pouco não houve um esmagamento em massa de quem estava nas primeiras fileiras. Elvis não deixou barato e procurou dar o melhor de si, ora chegando perto de seus fãs, ora se jogando no chão, se retorcendo, esticando o braço, pedindo ajuda – era demais para as garotinhas que foram literalmente ao delírio! O concerto foi rápido, mas intenso. Duas das músicas da lista que havia sido previamente distribuída aos músicos ficaram de fora, sem maiores explicações. Elvis simplesmente as pulou, indo direto para a última canção. Talvez ele estivesse com receio de que alguém fosse morto naquele mar de gente.

Quando os acordes finais soaram ele simplesmente deu no pé, deixando o pedestal do microfone balançando. As fãs gritaram em desespero, mas o show estava encerrado. Elvis nunca dava bis, essa era uma regra não escrita. No outro dia, como sempre acontecia, choveram protestos dos mais conservadores. Uma liga cristã, formada basicamente por donas de casa que odiavam rock, publicou um manifesto nos jornais condenando o show, afirmando que Elvis era “um péssimo exemplo para a juventude” e que uma mãe consciente jamais deixaria suas filhas irem a um antro de indecência como aquele. Ninguém ligou pois isso já tinha virado rotina e um tremendo clichê. Elvis se apresentava, as fãs amavam e no outro dia os conservadores protestavam. Era previsível. Elvis nem tomou conhecimento desses fatos, em breve ele estaria de volta aos estúdios de cinema para um novo filme e isso o deixava elétrico, excitado. Assim que seu avião decolou do Canadá ele celebrou com amigos o sucesso de sua excursão. O céu era realmente o limite para Elvis Presley nessa fase de sua vida. O mundo não tinha mais fronteiras para ele.

Pablo Aluísio.