quinta-feira, 15 de junho de 2023

Elvis Presley (1956) - O Primeiro Álbum

Hoje andei ouvindo novamente o primeiro álbum de Elvis Presley. Fazia tempo que tinha parado para ouvir com maior atenção. É curioso. Remoendo minhas velhas lembranças me recordo que comprei o segundo disco antes desse, o que me levou a ter uma impressão de que o primeiro álbum de Elvis era bem menos rico musicalmente do que o segundo. De certa maneira isso é uma verdade já que as sessões que deram origem a "Elvis" (1956) contaram com mais recursos, mais músicos, mais instrumentos, enfim, mais capricho. Além disso não podemos esquecer que o First Album contava com várias canções dos tempos da Sun Records e essa gravadora, como bem sabemos, era uma pequena empresa, quase fundo de quintal. Recursos tecnológicos e produção requintada realmente não eram bem com eles (pobre Sam Phillips!).

Pois bem. O disco abre com "Blue Suede Shoes" que é definitivamente um dos maiores clássicos da história do Rock mundial. É interessante que li muitas e muitas vezes certos jornalistas dizendo que Carl Perkins, autor da música, era o predestinado para seguir o sucesso de Elvis. Um acidente o tirou de cena e abriu caminho para que Elvis se tornasse quem foi! Será mesmo? Olhando para trás, hoje mais maduro, não posso deixar de pensar que esse pensamento é de uma bobagem sem tamanho. Quem em sã consciência realmente criou tamanha abobrinha que perdurou por anos e anos a fio em revistas e livros? Santa bobagem, Batman. Mas enfim.... são clichês do jornalismo. Confesso aqui publicamente que nunca gostei muito de "I'm Counting on You" do Don Robertson. Ele era genial em músicas românticas, mas aqui Elvis não chegou a uma gravação irrepreensível. Ficou algo pelo meio do caminho. Talvez sua simplicidade seja um pouco demais da conta.

"I Got A Woman" é aquela música profana que Ray Charles criou em cima de uma linha de melodia gospel. Ele sabia o que fazia. Bem no meio do sul racista e evangélico ele ousou criar algo tão fora dos padrões como essa música. Se já era herege no piano de Charles imaginem o choque que causou na voz de Elvis Presley com toda aquele gingado considerado indecente pelos puritanos. Era certamente uma coisa do capeta encarnado. Depois dela vem "One-Sided Love Affair" do Bill Campbell. Certamente é o primeiro belo arranjo do álbum, uma harmonia maravilhosa entre o vocal inconfundível de Elvis, piano, bateria e demais instrumentos. Estão numa sincronia ímpar. Provavelmente seja a melhor gravação em termos técnicos de todo o álbum, só perdendo talvez nesse quesito para "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)", sim, aquela música que os Beatles tentaram copiar sem sucesso em seu programa de rádio na BBC. Se nem os Beatles conseguiram recriar essa sonoridade imaginem o nível que a música como um todo apresenta. Obra prima.

Já a dobradinha "I Love You Because" e "Just Because" nunca fez muito minha cabeça. A primeira é muito, digamos, melancólica (de um jeito ruim de ser). Falta também um melhor equilíbrio entre vocal e instrumentos de apoio. Elvis está muito à frente o que sempre me intrigou pois ele ao longo da carreira sempre fez questão que sua voz fosse encoberta pelo seu grupo musical (opinião aliás com a qual o Coronel Parker não concordava). A segunda é um skiffle. Até aí nada demais. O problema é que os ingleses acabaram com o tempo se tornando os mestres desse ritmo. Como Elvis não era inglês... Deixemos isso de lado. "Tutti Frutti" talvez seja uma das músicas de Elvis mais conhecidas no Brasil, mas nos Estados Unidos e no resto do mundo ela é mais associada a Little Richard que a compôs e a gravou originalmente. Certa vez Elvis se referiu ao rock como "chiclete". Provavelmente estava lembrando dessa gravação. Maledicências à parte, não há como negar, a gravação de Pelvis é um dos pontos altos do álbum. Só ele tinha essa capacidade de mastigar e engolir a letra de uma música como ouvimos aqui. A cultura adolescente surgiu assim, em gravações como essa, não se engane.

Por fim, não podemos deixar de mencionar a clássica "Blue Moon". Poucos sabem, mas esse take quase foi jogado na lata de lixo da Sun Records porque afinal de contas Elvis esqueceu a letra bem no meio da sessão. Sam Phillips porém viu mais a frente. Ele percebeu que havia uma grande linha melódica ali - e Steve Sholes, produtor de Elvis na RCA Victor também percebeu a mesma coisa. Resultado? Ela foi encaixada no disco. Tinha tudo para ser um take alternativo descartado, acabou virando um clássico absoluto! Nada mal. Então é isso. Nada como ouvir de novo um disco que mudou a história da música para sempre. Ainda acho que o álbum seja esquelético em suas propostas sonoras?! Tudo depende do ponto de vista usado, meu caro, realmente tudo depende...

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Elvis Presley (1956) - Review

Esse foi o primeiro álbum do Elvis. Era um garotão contratado pela RCA Victor. Iria dar certo? Bem, era uma aposta da gravadora naquele momento. Claro que eu reconheço o grande valor histórico desse disco, mas curiosamente não é o meu preferido do cantor nos anos 50. Esse posto vai para o segundo LP dele, lançado nesse mesmo ano. Eu considero o segundo melhor do que esse primeiro. Não o comprei em vinil nos anos 80, como tantos outros discos do Elvis. Só vim adquiri-lo mesmo já no formato CD quando foi lançado aqui em versão nacional (bons tempos quando isso acontecia nos anos 90).

E quais são os destaques desse álbum? As minhas faixas preferidas fogem um pouco do óbvio. "Blue Suede Shoes" e "Tutti Frutti" foram os grande hits, mas vamos deixar elas um pouco de lado. Eu gosto muito de "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)" e "One-Sided Love Affair" em que Elvis explorou todos os seus dotes musicais. "I Got A Woman" é um clássico e "Money Honey" é uma grande faixa de rock. Porém a grande música foi herdada dos tempos da Sun Records. Se trata de "Blue Moon", uma gravação atemporal, ainda hoje muito relevante, mesmo em filmes e coletâneas mais modernas. Enfim é isso. O jovem Elvis ainda era um pouco cru, mas o talento estava lá, a ser lapidado. E logo ele deixaria de ser apenas um nome potencial para ser um grande nome da história da música internacional.

Elvis Presley - Elvis Presley (1956)
Blue Suede Shoes
I'm Counting on You
I Got A Woman
One-Sided Love Affair
I Love You Because
Just Because
Tutti Frutti
Trying to Get to You
I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)
I'll Never Let You Go (Lil' Darlin')
Blue Moon
Money Honey

Pablo Aluísio.

terça-feira, 13 de junho de 2023

Elvis Presley (1956) - FTD Elvis Presley

Embora grande parte dos fãs de Elvis saibam o que significa FTD por uma questão didática vou aqui explicar em poucas linhas do que se trata. FTD é a sigla de "Follow That Dream" que é um novo selo que vem colocando no mercado muito material inédito de Elvis. Basicamente são três os tipos de CDs que são lançados todos os anos pela FTD. Shows ao vivo (muitos inéditos ou com sensível melhora sonora, focado principalmente nos muitos concertos que Elvis realizou na década de 70), Álbuns Clássicos (como esse que aqui comentarei onde são recuperados os discos tais como foram lançados na discografia oficial de Elvis acrescidos de muitos takes inéditos) e finalmente coletâneas (geralmente misturando takes inéditos de discos diversos de Elvis). A coleção FTD enfim é o que de melhor há em termos de novidade com o nome Elvis Presley no mercado.

Esse FTD Elvis Presley é o título do selo que revisita o primeiro álbum oficial da carreira de Elvis na discografia americana. Eu já sabia de antemão que seria muito complicado compilar material suficiente para o lançamento desse CD. O fato é que o primeiro álbum de Elvis na RCA Victor era composto de canções da Sun e da RCA, principalmente pelo material gravado pelo cantor em Nova Iorque e Nashville. Infelizmente grande parte dessas sessões estão perdidas. Não houve por parte dos produtores, nem de Sam Phillips e nem de Steve Sholes, um cuidado maior em arquivar os takes alternativos dessas gravações de forma adequada. A consequência desse descuido é que há realmente uma grande lacuna de registros desses trabalhos de Presley em estúdio. Não há como afirmar com certeza que não existam mais ou se foram simplesmente jogados fora depois de tantos anos. O que se sabe com certeza é que por enquanto estão desaparecidos. Deveria se esperar um pouco mais, pode ser que tais registros estejam nas mãos de algum colecionador americano ou europeu só esperando a hora adequada de lançar no mercado.

Para tentar compensar essa falta de material relevante o produtor Ernst Jorgensen cometeu vários erros aqui. O primeiro foi lançar um CD duplo onde não havia quantidade de músicas suficientes para isso. O CD 2 do título inclusive é de uma inutilidade absurda. Contendo takes de apenas 3 canções, que inclusive não fizeram parte do primeiro álbum de Elvis, o segundo disco soa fora do lugar adequado dentro da coleção! Qual é o propósito de algo assim? Provavelmente só encarecer o produto pois esses registros de "Shake Rattle and Roll", "I Want You, I Need You, I Love You" e "Lawdy Miss Clandy" são desnecessários e inoportunos. Um desperdício. O que salva o título realmente é o CD 1 com o álbum completo (com sensível melhora em sua qualidade sonora) e os takes alternativos de "Heartbreak Hotel", "Money Honey" e "I Was The One". No segundo CD só se destaca mesmo uma rara entrevista de Elvis dada ao jornalista Don Davis. Vale pela curiosidade histórica. Fora isso nada mais de muito importante. É pouco? Certamente sim. Incompleto? Com certeza! De qualquer forma é o que se pode arranjar em face do perdido material que deveria fazer parte do disco. Quem sabe se no futuro os demais takes não sejam descobertos em algum depósito da RCA pelo mundo afora. Enquanto esse dia não chega temos que nos contentar com esse FTD Elvis Presley, mesmo que incompleto.

FTD Elvis Presley (1956)
Original release and outtakes: Blue Suede Shoes / Im Counting On You / ot A Woman / One Sided Love Affair / I Love You Because / Just Because / Tutti Frutti / Trying To Get To You / I'm Gonna Sit Right Down And Cry (Over You) / I'll Never Let You Go (Little Darlin') / Blue Moon / Money Honey / Bonus singles: Heartbreak Hotel / I Was The One / Lawdy Miss Clawdy / Shake Rattle And Roll / My Baby Left Me / I Want You, I Need You, I Love You / First RCA Sessions: I Got A Woman (N/A - incomplete) / I Got A Woman (N/A) / Heartbreak Hotel (4 - incomplete) / Heartbreak Hotel (5) / Heartbreak Hotel (6) / Money Honey (fragments*) / Money Honey (10 - incomplete) / I'm Counting On You (1 - incomplete*) / I'm Counting On You (N/A - incomplete) / I'm Counting On You (13) / I'm Counting On You (14 - incomplete*) / I Was The One (1) / I Was The One (2 - fs) / I Was The One (2) / I Was The One (3-fs*) / I Was The One (3 - incomplete*) / I Was The One (7A - not master) / I Was The One (N/A - incomplete*) CD-2: Dry reverb and outtakes The Dry Reverb Tape: I'm Counting On You (1) I'm Counting On You (2 - incomplete*) Session Outtakes: Lawdy Miss Clawdy / Shake, Rattle And Roll / I Want You, I Need You, I Love You / Don Davis Interviews Elvis Presley

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Elvis Presley (1956) - Discografia Americana

Discografia Americana: Elvis Presley (1956)
A discografia oficial da carreira de Elvis é a americana. Cada país ao redor do mundo trouxe inovações no que diz respeito aos discos de Elvis Presley. Porém a principal foi a lançada pela RCA Victor nos Estados Unidos a partir de 1956. A indústria fonográfica estava no auge naquele ano. Com isso a gravadora do cantor não apenas lançavas os álbuns (LPs), mas também uma série de singles, compactos duplos e versões estendidas do disco, lançamentos conhecidos como EPs (Extended Play). Abaixo segue a relação mais completa desses itens que foram extraídos do primeiro álbum de Elvis pela RCA. .Perceba como as mesmas gravações poderiam chegar de diferentes formas nas mãos do colecionadores.

ELVIS PRESLEY (1956)
BLUE SUEDE SHOES
I'M COUNTING ON YOU
I GOT A WOMAN
ONE-SIDED LOVE AFFAIR
I LOVE YOU BECAUSE
JUST BECAUSE
TUTTI FRUTTI
TRYIN' TO GET TO YOU
I'M GONNA SIT RIGHT DOWN AND CRY (OVER YOU)
I'LL NEVER LET YOU GO (LITTLE DARLIN')
BLUE MOON
MONEY HONEY

Singles extraídos deste disco:
Blue Suede Shoes / Tutti Frutti
I Got a Woman / I'm Counting On You
I'll Never Let You Go / I'm Gonna Sit Right Down and Cry
I Love You Because / Trying to Get You
Just Because / Blue Moon
Money Honey / One-Sided Love Affair

Obs: Esses singles foram lançados periodicamente após o lançamento do álbum principal. Todos foram lançados em 1956. Não havia faixas inéditas entre eles, apenas as músicas do LP. Por isso não obtiveram, em regra, boas posições de vendas na parada Billboard.









Compactos Duplos extraídos deste disco:
Elvis Presley (Blue Suede Shoes / Tutti Frutti / I Got a Woman / Just Because)
Elvis Presley (Blue Suede Shoes / I Got a Woman / I'm Gonna Sit Right Down and Cry / I'll Never Let You Go / I Got a Woman / One-Sided Love Affair / Tutti Frutti / Trying to Get You )

Ficha Técnica: Músicas da Sun Records - Elvis Presley (vocal e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Produzido Por Sam Phillips / Arranjado por Elvis Presley, Scotty Moore, Bill Black e Sam Phillips / Gravado no Sun Studios, Memphis / Data de gravação: 5 de julho de 1954, 19 de agosto de 1954, 10 de setembro de 1954 e 11 de julho de 1955. Músicas da RCA Victor - Elvis Presley (vocal, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Chet Atkins (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Short Long (piano) / Gordon Stocker, Ben e Brock Speer (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos RCA Studios - Nova Iorque e Nashville / Data de Gravação: 10,11,30 e 31 de janeiro e 3 de fevereiro de 1956 / Data de Lançamento: março de 1956 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).

Pablo Aluísio. 

domingo, 11 de junho de 2023

Elvis Presley (1956)

Eu gosto muito desse disco. Afinal é um álbum histórico, o primeiro gravado por Elvis Presley em sua nova gravadora, a RCA Victor. Porém devo dizer que dessa fase inicial, em 1956, ainda prefiro muito mais o segundo álbum de Elvis na RCA, intitulado simplesmente de "Elvis". Ali já havia um melhor tratamento nas canções, com mais primor em termos de arranjo e gravação. Esse primeiro disco ainda tem aquela sensação de que algumas faixas (em especial as trazidas da Sun Records) ainda estavam muito cruas. São gravações quase amadoras, afinal quando estava na Sun, Elvis ainda era em certos termos um cantor iniciante, procurando por uma carreira musical. Mesmo assim negar a importância desse LP é impossível. Por isso vamos tecer alguns comentários sobre cada faixa do disco.

1. Blue Suede Shoes (Carl Perkins) - O álbum abre com a canção "Blue Suede Shoes", um clássico absoluto do rock americano escrito por Carl Perkins. Até hoje se fala muito que Perkins poderia ter sido maior que Elvis, que ele teve azar de sofrer um acidente de carro muito sério e outras coisas. Olha, com todo o respeito ao Carl Perkins e seu talento, eu vejo esse tipo de observação como uma grande bobagem. Todo tipo de comparação é condenável. Cada um tem seus próprios defeitos e qualidades. Não penso que Perkins poderia ser maior do que Elvis, até porque depois de um tempo ele se recuperou e continuou na carreira, sem chegar nem perto do sucesso de Elvis Presley. Isso não o desmerece em nada, mas prova que dizer que ele poderia ter sido o grande nome do rock é especulação e uma tremenda bobeira

2. I´m Counting On You (Don Robertson) - "I'm Counting on You" havia sido composta por Don Robertson. Compositor de classe, excelente pianista, esse californiano iria cair nas graças de Elvis que por anos iria gravar inúmeras músicas criadas por ele. Basta lembrar das excelentes baladas românticas "Anything That's Part Of You", "I Met Her Today", "There's Always Me", "No More" e tantas outras lindas canções que trouxeram muita qualidade musical para diversos discos de Elvis ao longo dos anos. Coisa fina. É importante chamar a atenção que quando Elvis a gravou ainda não tinha à disposição uma banda maior, com mais instrumentistas, algo que iria enriquecer muito suas gravações no futuro. Em minha opinião a gravação de Elvis é de certo modo ofuscada um pouco por causa dessa falta de diversidade de arranjos. Provavelmente se Elvis a tivesse gravada em 1960 teríamos uma grande faixa, com orquestra ao fundo, mais qualidade em termos de grupo de apoio. De qualquer forma mesmo contando com uma pequena banda de apoio Elvis ainda conseguiu realizar um bom trabalho. Sua performance vocal era o grande diferencial, algo que conseguia se sobressair a todas as limitações técnicas da época.

3. I Got a Woman (Ray Charles) - Bom, se você gosta de Elvis Presley e Ray Charles e ao mesmo tempo diz que não gosta de "I Got A Woman", sugiro que procure logo um analista. São coisas indissociáveis. Concordo que em certos aspectos essa primeira versão de Elvis é muito singela. Porém ela apresenta aquela sonoridade dos anos 50 - ao sabor Sun Records - que literalmente salva todas as canções desse primeiro álbum do cantor na RCA Victor. Inclusive já virou lenda a forma como essa canção foi composta. Ray Charles resolveu fazer uma espécie de brincadeira, unindo a linha de melodia típica de uma canção gospel, religiosa, com uma letra profana, das mais profanas possíveis, é bom salientar. Obviamente a canção, lançada em single, virou um grande sucesso popular que Elvis não deixou que lhe escapasse entre as teclas do piano. Claro que The Pelvis tinha essa coisa de revirar pelo avesso qualquer composição de outro artista ao seu próprio estilo, porém em relação ao maravilhoso Ray Charles ele até que foi bem respeitoso. Sim, imprimiu seu estilo pessoal na gravação, mas sempre procurando respeitar o legado do pianista. Uma troca de favores entre dois gênios da música.

4. One-Sided Love Affair (Campbell) - Outra que vai na mesma linha é  "One-Sided Love Affair". Perceba que em seus primeiros discos Elvis desenvolveu uma técnica muito pessoal de cantar, que chegou a ser dita por alguns críticos dos anos 50 como um "mastigar de sílabas". Outro escreveu que Elvis cantava como se mastigava chicletes! Apesar da rabugice desses jornalistas, o fato é que a coisa toda até faz algum sentido. Elvis parecia um cantorzinho jovem brincando com o estilo de cantar daqueles tempos. Basta lembrar de Frank Sinatra e Dean Martin para uma comparação rápida. Elvis não  entoava sua voz com soberba, apenas cantava a letra da música de uma maneira mais relaxada, quase casual. Acabou criando uma nova linguagem musical nesse processo...

5. I Love You Because (Leon Payne) - Quando o assovio surge nas caixas de som você imediatamente sabe que "I Love You Because" de Leon Payne está começando. Essa baladinha country com uma guitarra chorosa de Scotty Moore sempre solando em lágrimas ao fundo, não chega a ser um destaque dentro do álbum. Porém mostra bem o estilo baladeiro de Elvis em seus anos iniciais. Lembra até mesmo de "My Happiness", a primeira gravação dele na Sun Records - o tal disquinho que gravou para dar de presente para sua mãe Gladys. Naquele primeiro acetato Elvis era apenas um amador tentando chamar a atenção. Porém aqui nessa faixa ele já poderia se considerar um cantor profissional. Inclusive já tinha deixado seu emprego de motorista de caminhão da empresa de energia elétrica de Memphis. Um futuro e tanto iria surgir para aquele jovem rapaz de 19 anos de idade.

6. Just Because (BJ Snelton / S.Robin) - "Just Because" também é bem subestimada. Já houve quem dissesse que era um skiffle bem disposto, porém a verdade é que esse estilo musical nada mais era do que uma variação inglesa para o country (genuíno) dos Estados Unidos. Uma simples releitura sem profundidade. Ingleses branquelos querendo soar como cowboys do sul norte-americano. Definitivamente eles não eram homens de Marlboro! Não colava muito bem. De qualquer forma o estilo mais rapidinho faz dessa uma boa faixa para Elvis e seu trio de caipiras - os Blue Moon Boys. É a tal coisa, se o tal rock ´n´ roll fosse uma coisa passageira Elvis e sua banda poderia muito bem viver tocando e cantando a música rural sulista nas feiras de gado nos arredores de Memphis e região. Valia tudo para sobreviver como artista naqueles tempos pioneiros, meus caros!

7. Tutti Frutti (Joe Lubin / Richard Penniman / Dorothy LaBostrie) - Outro hino da geração rocker é "Tutti Frutti". Essa é do Little Richard. Elvis nunca levou essa canção muito à sério, verdade seja dita. Ele inclusive poderia se referir a esse rock como uma música chiclete como ele gostava de dizer. O que significava exatamente isso? Ora, significava que Elvis a via como uma canção de rock sem muita substância, feita apenas para agitar, embalar seus fãs durante seus shows e apresentações na TV. Tanto isso parece ser verdade que ele logo a deixou de lado, não a usando mais depois desse disco. De qualquer forma Little Richard não cansou de agradecer a Elvis por ter gravado sua música. Em um documentário sobre esse álbum ele afirmou com todas as letras que só tinha mesmo a agradecer ao Rei do Rock, pois se Elvis não tivesse gravado suas músicas ele provavelmente ainda seria cozinheiro de uma espelunca em Atlanta. A gratidão sempre é muito bem-vinda meu caro Richard. Falou pouco, mas falou bonito!

8. Trying To Get To You (Charles Singleton / Rose Marie McCoy) - Uma das faixas desse álbum, o country "Trying to Get to You", seria utilizada por Elvis nos palcos até o fim de sua vida. Isso provava o quanto ele gostava da música, até porque ela nunca foi exatamente um sucesso em sua discografia, havia muitas outras músicas bem mais populares. Porém Elvis tinha um apreço especial por ela, como bem demonstra as centenas de versões ao vivo que cantou. Essa música também foi uma das que a RCA Victor aproveitou do período em que Elvis gravava na Sun Records, um ano antes. O produtor Steve Sholes ouviu todo o material que Sam Phillips enviou para Nova Iorque e escolheu entre as gravações aquelas que poderiam ser aproveitadas no disco de estreia de Elvis na RCA. Foi uma boa escolha do produtor. A gravação é realmente muito bem realizada por Elvis e banda.

9. I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Joe Thomas/Howard Biggs) - Caso típico de se ouvir uma música pela primeira vez e adorar logo de cara! Foi esse o meu caso ao ouvir a canção " "I'm Gonna Sit Right Down and Cry (Over You)". Passados tantos anos desde que comprei esse álbum e o ouvi pela primeira vez não mudei em nada a minha percepção dessa excelente faixa do álbum de estreia de Elvis Presley. Esse é seguramente um dos melhores momentos do álbum. Veja, todas as faixas desse disco se ressentem, em minha opinião, de um melhor trabalho em termos de arranjos.Porém no que diz respeito a essa música não teria nada a criticar. Ela é perfeita! Anos depois, nos tempos de seu programa semanal na BBC, os Beatles decidiram apresentar uma versão desse clássico rockabilly. Nem preciso dizer que a gravação dos ingleses ficou excepcional, resultando em uma gravação muito alto astral, alegre, para cima! Que conclusão diria sobre tudo isso? A música foi gravada por Beatles e Elvis Presley. Em ambos os discos o resultado ficou excepcional. Por tudo isso credito essa como uma das melhores da época de ouro do rock. E isso, meus caros leitores, definitivamente não é pouca coisa!

10. I'll Never Let You Go (Little Darlin') (Jimmy Wakely) - Outra canção que foi resgatada dos anos na Sun Records foi a balada "I'll Never Let You Go (Lil' Darlin')" de autoria de Jimmy Wakely. Esse foi um cantor e compositor popular no sul dos Estados Unidos durante as décadas de 1930 e 1940. Vestido de cowboy ele ganhou fama se apresentando no palco do Grand Ole Opry. Seguindo os passos de artistas como Gene Autry ele foi abrindo seu caminho, chegando até mesmo a compor para trilhas sonoras de filmes B de faroeste. Como Elvis sempre foi louco por cinema não era surpresa ele ter escolhido músicas do repertório de Wakely para gravar. A intenção era ter uma boa seleção musical country para tocar nos pequenos festivais que contratavam Elvis nessa fase de sua vida. Afinal cantar em feiras de gado e eventos desse tipo exigia mesmo um repertório bem popular, country, de acordo com o gosto das pessoas que frequentavam esses festivais.

11. Blue Moon (Richards Rodgers / Lorenz Hart) - "Blue Moon" é maravilhosa. Quando Elvis a gravou, em 1954, na Sun Records, ela já era uma balada consagrada dentro do universo musical americano. Gravada inicialmente nos anos 1930, bem no auge da depressão que assolava a economia daquele país, tinha se tornado um símbolo sentimental em uma época muito dura na vida das pessoas. Fica óbvio que Elvis a conhecia desde a infância. O diferencial de sua versão foi a performance claramente emocional que imprimiu na gravação. Embora tivesse alguns pequenos problemas, como o fato de Elvis ter esquecido a letra bem no meio da gravação, ainda assim a RCA Victor resolveu resgatá-la para fazer parte do primeiro disco do cantor na nova gravadora. O produtor Steve Sholes viu ouro puro ali. Era uma bela obra prima musical.

12. Money Honey (Jesse Stone) - "Money Honey" teve sua gravação original feita em 1953 por Clyde McPhatter que estava tentando emplacar uma carreira solo longe de seu grupo The Drifters. Essa primeira versão não teve muito sucesso. Depois ela foi regravada por Billy Ward and the Dominoes, onde finalmente se tornou um hit nas paradas, chegando a vender a incrível marca de um milhão de cópias. A versão de Elvis ficou muito bem executada, com aceleração de seu ritmo original, até porque agora a música era puro rock ´n´ roll na voz de Presley. O curioso é que a versão de Elvis acabou inspirando outro roqueiro famoso da época, Eddie Cochran, que também registrou sua própria interpretação na música pelo selo London em 1959, justamente quando Elvis estava bem distante, servindo o exército americano na Alemanha.

Elvis Presley - Elvis Presley (1956): Músicas da Sun Records - Elvis Presley (vocal e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / Produzido Por Sam Phillips / Arranjado por Elvis Presley, Scotty Moore, Bill Black e Sam Phillips / Gravado no Sun Studios, Memphis / Data de gravação: 5 de julho de 1954, 19 de agosto de 1954, 10 de setembro de 1954 e 11 de julho de 1955. Músicas da RCA Victor - Elvis Presley (vocal, violão e piano) / Scotty Moore (guitarra) / Chet Atkins (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Short Long (piano) / Gordon Stocker, Ben e Brock Speer (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos RCA Studios - Nova Iorque e Nashville / Data de Gravação: 10,11,30 e 31 de janeiro e 3 de fevereiro de 1956 / Data de Lançamento: março de 1956 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #1 (UK).

Pablo Aluísio.

sábado, 10 de junho de 2023

Elvis Presley (1956) - Parte 5

Bom, se você gosta de Elvis Presley e Ray Charles e ao mesmo tempo diz que não gosta de "I Got A Woman", sugiro que procure logo um analista. São coisas indissociáveis. Concordo que em certos aspectos essa primeira versão de Elvis é muito singela. Porém ela apresenta aquela sonoridade dos anos 50 - ao sabor Sun Records - que literalmente salva todas as canções desse primeiro álbum do cantor na RCA Victor.

Inclusive já virou lenda a forma como essa canção foi composta. Ray Charles resolveu fazer uma espécie de brincadeira, unindo a linha de melodia típica de uma canção gospel, religiosa, com uma letra profana, das mais profanas possíveis, é bom salientar. Obviamente a canção, lançada em single, virou um grande sucesso popular que Elvis não deixou que lhe escapasse entre as teclas do piano. Claro que The Pelvis tinha essa coisa de revirar pelo avesso qualquer composição de outro artista ao seu próprio estilo, porém em relação ao maravilhoso Ray Charles ele até que foi bem respeitoso. Sim, imprimiu seu estilo pessoal na gravação, mas sempre procurando respeitar o legado do pianista. Uma troca de favores entre dois gênios da música.

Quando o assovio surge nas caixas de som você imediatamente sabe que "I Love You Because" de Leon Payne está começando. Essa baladinha country com uma guitarra chorosa de Scotty Moore sempre solando em lágrimas ao fundo, não chega a ser um destaque dentro do álbum. Porém mostra bem o estilo baladeiro de Elvis em seus anos iniciais. Lembra até mesmo de "My Happiness", a primeira gravação dele na Sun Records - o tal disquinho que gravou para dar de presente para sua mãe Gladys. Naquele primeiro acetato Elvis era apenas um amador tentando chamar a atenção. Porém aqui nessa faixa ele já poderia se considerar um cantor profissional. Inclusive já tinha deixado seu emprego de motorista de caminhão da empresa de energia elétrica de Memphis. Um futuro e tanto iria surgir para aquele jovem rapaz de 19 anos de idade.

 "Just Because" também é bem subestimada. Já houve quem dissesse que era um skiffle bem disposto, porém a verdade é que esse estilo musical nada mais era do que uma variação inglesa para o country (genuíno) dos Estados Unidos. Uma simples releitura sem profundidade. Ingleses branquelos querendo soar como cowboys do sul norte-americano. Definitivamente eles não eram homens de Marlboro! Não colava muito bem. De qualquer forma o estilo mais rapidinho faz dessa uma boa faixa para Elvis e seu trio de caipiras - os Blue Moon Boys. É a tal coisa, se o tal rock ´n´ roll fosse uma coisa passageira Elvis e sua banda poderia muito bem viver tocando e cantando a música rural sulista nas feiras de gado nos arredores de Memphis e região. Valia tudo para sobreviver como artista naqueles tempos pioneiros, meus caros!

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Elvis Presley (1956) - Parte 4

"Blue Moon" é maravilhosa. Quando Elvis a gravou, em 1954, na Sun Records, ela já era uma balada consagrada dentro do universo musical americano. Gravada inicialmente nos anos 1930, bem no auge da depressão que assolava a economia daquele país, tinha se tornado um símbolo sentimental em uma época muito dura na vida das pessoas. Fica óbvio que Elvis a conhecia desde a infância. O diferencial de sua versão foi a performance claramente emocional que imprimiu na gravação. Embora tivesse alguns pequenos problemas, como o fato de Elvis ter esquecido a letra bem no meio da gravação, ainda assim a RCA Victor resolveu resgatá-la para fazer parte do primeiro disco do cantor na nova gravadora. O produtor Steve Sholes viu ouro puro ali. Era uma bela obra prima musical.

Outra canção que foi resgatada dos anos na Sun Records foi a balada "I'll Never Let You Go (Lil' Darlin')" de autoria de Jimmy Wakely. Esse foi um cantor e compositor popular no sul dos Estados Unidos durante as décadas de 1930 e 1940. Vestido de cowboy ele ganhou fama se apresentando no palco do Grand Ole Opry. Seguindo os passos de artistas como Gene Autry ele foi abrindo seu caminho, chegando até mesmo a compor para trilhas sonoras de filmes B de faroeste. Como Elvis sempre foi louco por cinema não era surpresa ele ter escolhido músicas do repertório de Wakely para gravar. A intenção era ter uma boa seleção musical country para tocar nos pequenos festivais que contratavam Elvis nessa fase de sua vida. Afinal cantar em feiras de gado e eventos desse tipo exigia mesmo um repertório bem popular, country, de acordo com o gosto das pessoas que frequentavam esses festivais.

"I'm Counting on You" havia sido composta por Don Robertson. Compositor de classe, excelente pianista, esse californiano iria cair nas graças de Elvis que por anos iria gravar inúmeras músicas criadas por ele. Basta lembrar das excelentes baladas românticas "Anything That's Part Of You", "I Met Her Today", "There's Always Me", "No More" e tantas outras lindas canções que trouxeram muita qualidade musical para diversos discos de Elvis ao longo dos anos. Coisa fina. É importante chamar a atenção que quando Elvis a gravou ainda não tinha à disposição uma banda maior, com mais instrumentistas, algo que iria enriquecer muito suas gravações no futuro.

Em minha opinião a gravação de Elvis é de certo modo ofuscada um pouco por causa dessa falta de diversidade de arranjos. Provavelmente se Elvis a tivesse gravada em 1960 teríamos uma grande faixa, com orquestra ao fundo, mais qualidade em termos de grupo de apoio. De qualquer forma mesmo contando com uma pequena banda de apoio Elvis ainda conseguiu realizar um bom trabalho. Sua performance vocal era o grande diferencial, algo que conseguia se sobressair a todas as limitações técnicas da época.

Pablo Aluísio.