sexta-feira, 5 de abril de 2024

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album - Parte 2

O disco abre com "Santa Claus Is Back in Town", uma faixa que é puro blues. Dois terços da população da cidade de Memphis era formada por pessoas negras. Isso dá uma ideia da grande influência cultural dessa parcela do povo na cultura da cidade de uma forma em geral. É claro que o jovem Elvis absorveu tudo isso. Ele ouvia com regularidade as estações negras da cidade. Elvis nunca foi um homem racista, muito pelo contrário. Ele sabia o que tinha ou não qualidade musical. E havia muita qualidade nas gravações dos artistas black. Obviamente, tudo isso, toda essa influência, passou para a sua própria musicalidade. O blues nasceu nas grandes plantações de algodão do sul. Era um lamento dos escravos negros que foram traficados para a América do Norte por séculos. Era cultura preta em sua mais pura essência.

Agora imaginem um homem branco americano, de classe média, dos anos 50, comprando esse disco natalino, levando para casa, para ouvi-lo pela primeira vez. Um sujeito que poderia até mesmo se considerar um conservador. De repente, ele coloca o disco para tocar e o que ele ouve? Um blues visceral cantado por Elvis! A letra até poderia soar bem de acordo com a cultura média branca da época, mas o som, a musicalidade, era pura black music. Não me admira em nada que houve até mesmo boicotes contra o álbum. Quem era racista não admitiria uma coisa dessas, ainda mais sendo consumido pelas suas jovens fiilhas adolescentes no sul dos Estados Unidos, onde, nem preciso dizer, era muito presente o racismo nos lares americanos. Uma situação social realmente deplorável.

Já o Coronel Parker queria um disco natalino bem tradicional. E para se ter um repertório nesse estilo, era necessário também apelar para os grandes compositores clássicos. Poucos compositores foram tão clássicos dentro da cultura musical dos Estados Unidos do que Irving Berlin. Um compositor sutil, elegante, de músicas que ficaram para sempre gravados dentro da mais alta cultura dos Estados Unidos. Justamente o que temos aqui na segunda faixa, "White Christmas". Elvis deve ter sentido o peso de gravar uma faixa como essa, embora clássicos não tenham sido uma novidade para ele. Presley já havia flertado com essa linha musical, até mesmo no lado B do disco "Loving You". Já havia gravado, por exemplo, Cole Porter. De qualquer forma, a gravação é excelente e do mais alto nível, tudo obviamente, com um toque do próprio Elvis e seu estilo musical. Pura cultura da tal elite branca da época.

O álbum assim abria com duas faixas bem representativas dos dois lados culturais da América. Mesclava a cultura negra e a cultura branca. Sem dúvida, era algo que não se esperaria de um disco natalino naqueles tempos. A década de 1950 foi uma das mais conservadoras e tradicionais da história americana. Os costumes culturais e sociais de segregação racial imperavam dentro daquela comunidade. Elvis surgira assim como um verdadeiro desbravador, um cara branco que ousou misturar tudo com a negritude dos guetos de Memphis. E tornou isso a fonte principal de sua música. Grande parte de sua genialidade artística veio justamente dessa mistura de culturas tão distintas e historicamente tão separadas.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de abril de 2024

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album - Parte 1

Elvis Presley - Elvis' Christmas Album - Parte 1
Imagine hoje em dia um empresário colocando o roqueiro mais popular do mundo para gravar um disco apenas com músicas natalinas! Soaria para muitas pessoas, como algo fora do normal, algo até mesmo esdrúxulo. Pois foi exatamente isso que o Coronel Parker fez com Elvis Presley em 1957. Temos que ter em mente que os tempos eram os outros. Os anos 50 traz outro contexto histórico. Então não soava tão estranho assim, até porque muitos cantores populares da época também gravavam discos de Natal. Parker não precisou de muito trabalho para convencer Elvis a gravar um disco apenas com músicas de conteúdo natalino. E lá foi o jovem cantor, o rockstar, gravar esse tipo de música.  

Comercialmente, era algo muito vantajoso, porque as vendas do fim de ano estavam logo ali e era o forte do comércio. Pensando bem, um disco natalino com o jovem Elvis Presley era realmente um produto comercial muito viável. E isso se provaria com os números. Esse acabou sendo um dos álbuns mais vendidos da vida de Elvis. Colecionou discos de Platina e continuou vendendo Natal após Natal durante muitos anos. Nesse aspecto, o Coronel Parker havia acertado em cheio, até porque foi muito lucrativo para ele e seu cliente, Elvis. A gravadora também agradeceu. As cópias do disco não paravam de ser vendidas nas lojas. Foi um sucesso realmente espetacular.

E se engana quem acha que é um disco ruim, muito pelo contrário. Eu vejo muita qualidade nessas gravações. Elvis conseguiu gravar blues, rock e outros estilos usando letras natalinas. É um feito e tanto. Até hoje, ao ouvir essas faixas, eu fico admirado com a versatilidade desse jovem cantor de rock. Era um artista acima da média. Realmente surpreende a qualidade de seu trabalho dentro dos estúdios. 

Elvis Presley não chegou a gravar músicas natalinas suficientes para completar um álbum, mas a RCA daria um jeito nisso. No lado B, colocaria músicas religiosas que ele havia gravado para o EP "Peace in the Valley". As músicas tinham semelhanças de temas, afinal o Natal não deixava de ser um feriado religioso. E assim foi elaborado esse disco que trouxe muito êxito comercial para Elvis e principalmente para o velho Coronel Parker, que não perdia mesmo uma chance de  ter bons lucros!

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Elvis Presley - A Harley-Davidson de Elvis

Tendo uma origem muito humilde, Elvis assim que começou a ganhar algum dinheiro como cantor, começou a realizar alguns antigos sonhos de consumo. Embora fosse louco por carros, Cadillacs em especial, ele tinha também verdadeira adoração por motos. Como era um jovem de bom gosto assim que lhe caiu em mãos seu primeiro grande pagamento da Sun Records Elvis foi até um loja de Memphis especializada, de propriedade de Tommy Taylor, para comprar sua primeira moto, uma Harley-Davidson, é claro.

Já naquela época a marca era um dos símbolos do país. Possante, barulhenta e com força, a Harley era o sonho de todo jovem aspirante a se tornar um clone de Marlon Brando em seu papel no filme “O Selvagem”.A primeira Harley-Davidson de Elvis foi um modelo Harley 165. Ele fez um financiamento e a adquiriu em suaves prestações de US$ 47 dólares mensais. Essa era considerada uma moto de viagem, que tinha grande autonomia, podendo se deslocar por grandes distâncias sem grande consumo de combustível. Certamente Elvis ao comprá-la pensava em utilizar a moto para suas turnês, pelo menos quando se deslocava a cidades próximas a Memphis. A ideia não era do agrado de Gladys, sua mãe, que definitivamente odiava motocicletas pois tinha medo de que seu filho viesse a se acidentar. De qualquer modo Elvis ficou por longo período com a Harley 165. Muitas vezes gostava de viajar com ela ao lado do carro de sua banda, já que Elvis adorava a experiência de ir de cidade em cidade pilotando sua possante Harley-Davidson. Assim ele poderia facilmente se imaginar na pele de seus ídolos James Dean e Marlon Brando. Imagine você numa cidade do interior dos EUA na década de 50 vendo Elvis Presley montado em uma Harley para fazer um show em sua cidade natal. Nada mal não é mesmo?

Depois dessa moto que Elvis particularmente tinha grande carinho por ser a primeira e a mais rodada, ele resolveu comprar uma nova motocicleta para comemorar o sucesso consolidado de seus discos, shows e filmes. Essa era uma muito mais moderna, uma Harley-Davidson modelo FLH ano 1957, em tamanho Jumbo, alimentada por um potente motor. A FLH era considerada uma sensação na época.

Forte e espaçosa poderia levar um acompanhante com todo o conforto pois seu banco traseiro era estufado e muito confortável. Era a moto preferida de Elvis para passear com suas namoradas. Ao acelerar a máquina fazia um barulho peculiar que era impossível ignorar. Elvis novamente teve problemas com ela, porque sua mãe Gadys a achava muito barulhenta e fumacenta. Essa é a moto que aparece na capa de um dos LPs de Elvis na década de 80, Elvis Rocker. Um ícone de sua carreira na década de 50.

Outra moto que foi uma de suas favoritas foi uma Harley-Davidson modelo Ironhead OHV Sportster 1957. Com silhueta aerodinâmica essa era uma moto de velocidade acima de tudo. O modelo era usado nas corridas que gostava de promover com amigos. Foi com ela que Elvis acabou batendo seus recordes de velocidade.

Ao longo da vida Elvis nunca deixaria de comprar muitas motos. Mal saía um modelo novo que lhe interessasse e ele logo se apressava para comprar. Também gostava de modelos exóticos, com duas rodas traseiras. Outra característica de seu gosto pessoal era a preferência por modelos robustos, ostensivos. Por essa razão não gostava das marcas japonesas como a Honda pois as achava compactas demais. Curiosamente em um de seus filmes, "Carrossel de Emoções", Elvis teve que andar em marcas fabricadas no Japão (Made in Japan).

Andar de moto para ele era sempre um prazer renovado. O cantor nunca deixou o hábito de andar de motocicleta. Mesmo na década de 70, quando já estava quarentão, Elvis não dispensava um passeio pelas redondezas de Graceland. Não era raro ele surpreender os fãs ao sair da mansão pilotando um novo modelo. Era acima de tudo uma paixão antiga que jamais o abandonou.Também nos anos 70 Elvis conseguiu desfrutar de uma certa tranquilidade nesses passeios. Nos anos 50 e 60 ele sempre era perseguido por fãs, admiradores, curiosos e paparazzis quando resolvia fazer seus passeios. Já nos anos 70 lhe deixavam mais em paz. Os próprios moradores de Memphis já não o importunavam mais quando andava pelas ruas da cidade. Sabiam respeitar sua privacidade. Deixá-lo em paz. Elvis adorava quando isso acontecia. Ser um superstar todos os dias, sempre, era algo cansativo. Algumas vezes ele queria ser apenas uma pessoa comum, andando com suas motos. Assim Elvis conseguia, mesmo em raros momentos, desfrutar um pouco de suas máquinas possantes.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Elvis Presley - Discografia Brasileira 1957

Elvis Presley - Discografia Brasileira 1957
1957 foi um ano ridículo para os fãs brasileiros de Elvis Presley. Imagine ser fã do cantor mais famoso do mundo e não ter acesso ao que ele está lançando nos EUA. É justamente isso que aconteceu aqui no Brasil no ano de 1957. A impressão que se passa é de que a filial da RCA em nosso país simplesmente não acreditava em Elvis como potencial de vendas. Só isso justifica o fato de não ter sido lançado nenhum álbum do cantor daquele ano no Brasil.

É óbvio que o Brasil era muito atrasado em tudo (continua sendo), mas é complicado entender porque os álbuns “Loving You”, “Elvis Christmas Album” e a trilha de “Jailhouse Rock” completa não chegou aos fãs da época. O único “lançamento” em álbum daquele ano foi “Elvis” que foi lançado no ano anterior nos EUA. Pelo menos a edição nacional seguiu os passos da americana. Para se ter uma idéia do atraso o “Elvis Christmas Album” só chegou no mercado nacional quatro anos depois, com outra capa.

Na realidade os fãs nacionais consumiram em 1957 o que havia sido lançado um ano antes, em 1956, nos EUA. Ao invés de colocar os últimos lançamentos nas lojas a RCA Brasil lançou vários compactos duplos do primeiro disco americano de Elvis e a trilha sonora em compacto duplo de “Love Me Tender”. Em relação a esses compactos duplos outra peculiaridade é que eles trouxeram uma seleção de músicas diferentes das edições americanas. Fora isso nada de novo. A salvação veio nos singles que foram lançados por aqui com relativa rapidez, seguindo fielmente as edições americanas – menos nas capas pois nem todos seguiram a direção de arte original.

Assim foram lançados cinco compactos, todos em 78 ou 45 RPM. A maior curiosidade nesse pacote foi o single “Don´t Leave Me Now / Baby I Don´t Care”, praticamente único no mundo, sem qualquer semelhança com a discografia norte-americana. Foi a forma encontrada pela RCA daqui de disponibilizar aos fãs o restante da trilha sonora de “Jailhouse Rock” que não foi lançada de forma completa como aconteceu nos EUA  (onde ganhou bela edição com todas as canções do filme no formato EP – Compacto Duplo).  Enfim, a discografia brasileira seguia aos trancos e barrancos, com atrasos, omissões e falhas, muitas falhas. Segue abaixo a relação de todos os itens lançados no Brasil em 1957:

Álbum:
Elvis
(Rip it Up / Love me / When my blue Moon Turns to Gold Again / Paralyzed / So Glad You're Mine / Old Sheep / Ready Teddy / Anyplace is Paradise / Long Tall Sally / First in Line / How do you Think I fell / How's The World Treating You)

Compactos Simples (Singles):
Too Much / Playing for Keeps
All Shook Up / That's When Your Heartaches Begin
Teddy Bear / Loving You
Jailhouse Rock / Treat Me Nice
Don´t Leave Me Now / Baby I Don´t Care

Compactos Duplos (EPs):
Elvis Presley
(Blue Suede Shoes / I Got a Woman / One-Sided Love Affair / I'm Counting On You)
Elvis Presley
(I Got a Woman / Tutti Frutti / One-Sided Love Affair / Trying to Get You)
Elvis
(Rip It Up / Love Me / Long Tall Sally / So Glad You-re Mine)
Love Me Tender
(Love Me Tender / Let Me / Poor Boy / We´re Gonna Move)

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de março de 2024

Elvis Presley - Ed Sullivan Show, 1957

Logo no começo de 1957 Elvis teve que cumprir uma série de compromissos. Anos depois ele diria ao Coronel Parker que não mais assinasse contratos em que ele tivesse que trabalhar no período que ia do Natal até seu aniversário no dia 8 de janeiro. Elvis queria esse tempo para descansar, para curtir um pouco, afinal ele era apenas um jovem como qualquer outro. Isso porém não ocorreu em 1957 e assim Elvis teve que interromper suas rápidas férias para cair na estrada novamente, gravar novas músicas e participar do último programa de TV com Ed Sullivan. No dia 4 de janeiro Elvis teve que cumprir suas obrigações com o serviço militar que se avizinhava.

Ele foi até o Hospital dos Veteranos para o exame médico. Foi classificado como apto ao serviço militar. A notícia não passou despercebida pela grande imprensa. Muitos afirmaram que ele seria dispensado para no máximo entreter as tropas. Algo que muitos artistas fizeram durante a II Guerra Mundial. A reação foi imediata. Medalhões e veteranos protestaram e foram às rádios para dizer que Elvis Presley, independente de sua fama e sucesso, deveria prestar suas obrigações com o país como qualquer outro jovem de sua idade. Isso pegou Elvis e o Coronel Parker de surpresa pois eles nunca tinham se manifestado sobre Elvis ir ou não para o exército americano. Nem mexeram pauzinhos para algum figurão liberar Elvis da farda. Essa reação negativa foi mais fruto do sensacionalismo da imprensa americana do que qualquer outra coisa. Mas como Elvis não iria de imediato para o serviço militar regular (se fosse chamado só prestaria serviço efetivo no ano seguinte), o assunto foi deixado de lado e ele seguiu em frente com sua carreira.

Dois dias depois desse exame Elvis chegou em Nova Iorque para sua última apresentação no Ed Sullivan show do canal CBS. Ao lado da banda decidiu incluir grandes sucessos como Love Me Tender, Heartbreak Hotel, Don´t Be Cruel e Hound Dog ao lado das menos famosas When My Blue Moon Turns To Gold Again e Peace In The Valley. Essa última música era um gospel que o cantor adorava e que ele pretendia gravar em breve no estúdio. Por fim ainda arranjaram espaço para encaixar Too Much, seu último single nas lojas. Nos bastidores Elvis surgiu bem mais relaxado do que das outras ocasiões.

Ela já tinha seu nome consolidado e não era apenas um novato tentando impressionar como em 1956. Para Ed Sullivan era mais uma ótima oportunidade de elevar sua audiência às alturas. Ninguém tinha ainda esquecido os números das últimas aparições de Presley em seu programa. Houve uma tentativa por parte da CBS em assinar com Elvis a realização de mais seis aparições do cantor no programa mas o Coronel Parker não demonstrou mais nenhum interesse. O velho empresário estava de olho no cinema. A TV havia se tornado um veículo muito acanhado para seus planos. Há poucos dias Elvis havia assinado com Hal Wallis, o famoso produtor de Hollywood, a realização de um novo filme na Paramount, um dos estúdios de ponta da capital do cinema. Wallis tinha grandes planos para Elvis. O Coronel também explicou sua nova filosofia para Presley: “Daqui em diante quem quiser ver você de novo que pague um ingresso de cinema”. Elvis achou ótima a idéia. Ele queria se tornar ator de cinema pois a carreira de cantor não lhe trazia muita segurança em relação ao seu futuro. Além disso ele tinha mostrado jeito para a coisa em “Love Me Tender”.

No final do programa o apresentador Ed Sullivan resolveu falar algumas palavras de apoio a Presley. O chamou de um "jovem decente" e defendeu o artista contra os que o acusavam de incentivar a delinquência juvenil. Novamente a apresentação foi campeã em audiência mostrando a força do nome Elvis Presley no mundo do entretenimento. Depois da transmissão do programa, que foi um grande sucesso, Elvis caiu na estrada novamente. As turnês eram cansativas e em alguns shows coisas inusitadas aconteceram. Em um concerto na Pennsylvania Sports Arena, bem no meio de sua apresentação alguém jogou um ovo nele que pegou seu violão em cheio, bem no alvo. Ele tentou levar na esportiva. Enquanto a casca do ovo e sua gema deslizavam pela tampa do violão, Elvis resolveu parar a música. Após fazer uma careta disse: “A maioria das pessoas que estão aqui vieram para apreciar o show. O cara que jogou o ovo nunca vai conseguir isso. O que eu quero dizer é que queremos fazer uma apresentação legal para vocês, acima de tudo”. Os engraçadinhos que jogaram o ovo foram presos pela polícia. Eram alguns valentões que afirmaram na delegacia que não gostavam de Elvis e nem de sua música. O fato logo foi esquecido e Elvis partiu em viagem novamente. Afinal eram ossos do ofício. Seu próximo compromisso era com a RCA. A gravadora queria novas músicas o mais rápido possível pois a “lata estava vazia” – tudo o que Elvis havia gravado já tinha sido lançado no mercado. Novos sucessos viriam por aí e os fãs não perderiam por esperar.

Pablo Aluísio

sexta-feira, 22 de março de 2024

Elvis Presley - Pan Pacific, 1957

Se formos comparar com o ano anterior Elvis se apresentou bem menos em 1957. A razão é bem simples de explicar. Ao assumir o compromisso de fazer dois filmes em Hollywood sobrou pouco tempo para ele cair na estrada. As filmagens de Loving You e Jailhouse Rock foram um pouco além do que estava previsto. Além disso o cantor teve que gravar as trilhas sonoras desses filmes e mais  um álbum natalino. Fazer concertos ao vivo se tornou secundário. Mesmo assim aconteceram coisas marcantes no palco nesse ano. Elvis se apresentou fora dos Estados Unidos pela primeira (e última vez). Ele foi ao Canadá por duas vezes. Fez sucesso por lá e consolidou uma carreira internacional  (por mais curta que fosse). Por essa época começaram a chegar propostas tentadoras ao escritório do Coronel Parker. Empresários de outros países como Inglaterra, França e Alemanha, queriam contratar a nova sensação da música americana para realizar turnês em seus respectivos países. O Coronel recusou uma por uma as propostas, mesmo com cachês oferecidos que equivaliam ao triplo do que Elvis vinha ganhando ao se apresentar em algumas cidades americanas. O motivo todos sabem. O Coronel Parker era imigrante ilegal e por isso não podia tirar seu passaporte. Sem passaporte nada de viagem e ele certamente não deixaria Elvis viajar sozinho pois tinha receios de que perdesse seu passe para algum empresário estrangeiro que caísse nas graças do cantor.

Em entrevistas Elvis sempre estava falando em fazer uma turnê na Inglaterra - era um de seus sonhos. O Coronel o levava na conversa dizendo que eles deveriam esperar por propostas melhores e Elvis caía na lábia de Parker. O problema é que essa proposta de fato nunca seria aceita, em hipótese alguma, pelos motivos já explicados. Ao invés de ir para a Europa Elvis voltou ao Canadá em agosto. Ele se apresentou em Vancouver no Empire Stadium. Outro sucesso de público e crítica. Depois disso fez uma pequena e restrita turnê por três cidades importantes: Seattle, Portland e Tacoma. Foram concertos sem maiores incidentes onde Elvis procurou dar o melhor de si mas sem se cansar muito.

Seu teste de fogo nesse ano aconteceu no Pan Pacific Auditorium nos dias 29 e 29 de outubro de 1957. Nesses dois concertos Elvis estava disposto a impressionar o público. Havia muitos figurões e celebridades de Hollywood na platéia. Como Elvis almejava consolidar sua carreira de ator ele procurou dar o melhor de si para mostrar toda a extensão de seu talento como performance. Ao adentrar o palco ele parecia elétrico, realmente empenhado em fazer a melhor apresentação de sua vida. Elvis não parou um só minuto, dançando, requebrando, caindo no chão, usando o microfone ora com ternura e ora com fúria. Queria colocar tudo o que havia aperfeiçoado naqueles anos todos num único concerto. Ao seu lado no palco estava um enorme e inconveniente boneco de Nipper, o cãozinho símbolo da Radio Corporation of America (RCA), sua gravadora. Elvis olhou para aquele mascote e resolveu brincar com ele. Já que não havia como ignorar aquele boneco enorme então seria melhor usá-lo como parte do show. No começo começou a cantar abraçado ao bichinho mas depois começou a rolar pelo chão com o boneco. O público foi ao delírio. Elvis ria, se insinuava, parecia se divertir como nunca! Mal sabia ele na confusão em que estava se metendo.

Foi um prato cheio para os jornais sensacionalistas. No outro dia Elvis estava sendo acusado de ter "possuído" um cachorro no meio do show! Um claro exemplo de exibicionismo erótico e barato segundo seus críticos mais ferozes. Os conservadores arrancaram os cabelos da cabeça! Ele estava incentivando atos de Zoofilia? Meu Deus prendam esse representante de Satã na terra! O que esse marginal estava afinal querendo? Denegrir toda a moral da sociedade americana? Quem ele pensava que era? A ala mais retrógrada da sociedade americana estava chocada com os acontecimentos! Um exaltado jornalista perdeu a postura e atacou ferozmente Elvis, dizendo que tal como a Juventude Hitlerista havia corroída a alma da juventude alemã, Elvis estava corroendo a juventude americana em seus valores mais fundamentais e básicos. Era a reencarnação de Hitler! Após dizer que seus fãs clubes eram centros de incentivos para orgias, drogas, bebedeiras e delinquência juvenil sugeriu que Elvis fosse contido, se possível respondendo a um pesado processo criminal. Terminou o texto ironizando afirmando que após trancafiar o "mal em pessoa" a chave deveria ser jogada fora para não haver perigo dele voltar às ruas! A notícia se espalhou rapidamente e assim Elvis se viu no meio da maior polêmica de sua carreira até então. E isso tudo porque ele apenas rolou com Nipper pelo chão durante o show! Sem dúvida muitos queriam sua cabeça numa bandeja naquela época. O pior é que ele faria um outro concerto no mesmo local na noite do dia seguinte. Sem hesitar o chefe do departamento de polícia local mandou filmar toda a apresentação. Se Elvis voltasse a fazer alguma barbaridade iria para a prisão na mesma hora! Joguem esse louco na cadeia!!! – esbravejavam os líderes religiosos pentecostais!

Quando o show começou e Elvis entrou no palco caminhando lentamente e calmamente ele se deparou com todos aqueles tiras ao redor, com alguns deles filmando cada gesto, cada detalhe. Eles queriam pegar o flagra de Elvis e Nipper naquele enlace imoral! Elvis parou, olhou tudo aquilo e deu um sorriso irônico dizendo: "Eu vou ser um anjo essa noite"! Todos riram. Anos depois Elvis brincaria dizendo que não poderia mexer nem o dedinho da mão pois isso poderia ser considerado imoral e indecente. Para os setores conservadores isso iria dar uma lição no cantor e significaria o fim de sua carreira. Quem iria comprar um disco daquele Rasputin maníaco depois de tudo aquilo?! Pensaram errado. O fato trouxe uma publicidade jamais vista a Elvis e ele ficou mais famoso ainda. Os jovens que o idolatravam agora o endeusaram completamente. Elvis era o novo James Dean, o novo rebelde, o carinha muito louco que no palco colocava pra quebrar mesmo! Ele encarnava toda a rebeldia dos jovens do mundo! O que aqueles velhos sabiam sobre música e Rock ´n´ Roll? Nada, absolutamente nada!

Um mês depois de todo esse rebuliço Elvis chegou ao Havaí pela primeira vez. As ilhas, que teriam um papel fundamental em sua carreira no futuro, o receberam de braços abertos. Foi uma viagem produtiva e divertida onde Elvis esfriou a cabeça. O fim do ano chegou e Elvis se recolheu em sua nova mansão, Graceland. Ele havia comprado a enorme casa por cem mil dólares. Era uma velha residência no mais puro estilo sulista. Elvis que era extremamente caseiro ficou duplamente gratificado. Estava ao lado de seus pais queridos, tinha vários discos e singles nas paradas e seus filmes tinham se tornado grandes sucessos de bilheteria. Não faltava mais absolutamente nada e ele se sentia feliz e realizado, tanto profissionalmente como pessoalmente. Ao contrário da imagem que seus shows no Pan Pacific construíram, a do rebelde sem causa com guitarras, a verdade pura e simples era que Elvis não era em sua vida privada uma pessoa rebelde, que queria abalar as estruturas da sociedade. Muito pelo contrário. Presley era acima de tudo um rapaz família, que adorava estar junto de seu pai e sua mãe, curtindo a privacidade de sua nova mansão. Dentro de Graceland Elvis podia relaxar completamente, sem temer qualquer tipo de invasão de sua vida privada. Dentro dos muros de sua casa ele voltava a ser o mesmo Elvis de Tupelo. Uma pessoa brincalhona, cercado pelas pessoas que ele entendia ser de plena confiança. Com Gladys ao seu lado desenvolveu uma divertida linguagem de bebê - ele falava como uma criança pequena com Gladys e ela respondia a ele no mesmo tom! Ninguém entendia nada do que falavam entre si mas invariavelmente Elvis caia no chão de tanto dar risadas com essa brincadeira. A felicidade era plena e reinava em cada canto de sua querida Graceland! Era seu sonho se tornando realidade.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de março de 2024

Elvis Presley - Shows no Canadá, 1957

Em abril de 1957 Elvis Presley realizou aquela que seria sua primeira excursão internacional. Foi no vizinho Canadá onde Elvis se apresentou em concertos nas cidades de Toronto e Ottawa. É inacreditável, mas um dos cantores mais populares de todos os tempos nunca realizou shows na Europa, nem no Japão, nem em lugar nenhum fora dos Estados Unidos. O único país estrangeiro que teve a honra de receber um show de Elvis foi justamente o Canadá! Como isso foi possível? Elvis lotaria shows em qualquer lugar no mundo tamanha era sua popularidade nessa época, mas o astro não saía de seu país de jeito nenhum! Esse fato incomum até hoje chama a atenção de estudiosos e fãs de Presley.

A verdade pura e simples é que seu empresário, o astuto Tom Parker, era um imigrante ilegal nos EUA e por isso não conseguiria tirar seu passaporte. Assim se ele não viajava, Elvis também não viajaria. Absurdo? Claro que sim. O mundo se viu privado de ver Elvis ao vivo porque em última instância seu empresário era um estrangeiro que não poderia viver nos EUA de forma legal. Aliás ele nem se chamava Tom Parker na verdade, esse era um nome falso. Ele na realidade era holandês e seu nome real era Andreas. Algumas biografias até chegam a afirmar que Parker tinha fugido de seu país natal por ter assassinado uma mulher. Verdade ou não? Hoje, passados tantos anos, fica mais complicado chegar na versão real do que de fato aconteceu.

De qualquer modo os canadenses tiveram a oportunidade de ver o grande Rei do Rock no auge de sua carreira. Elvis surgiu no palco de dourado, uma nova roupa de shows feita especialmente para os concertos mais importantes. Era um novo visual condizente com seu status de “garoto de ouro da indústria fonográfica”. Sorridente, solícito, Elvis esbanjou simpatia por onde passou. Parou para atender fãs, acenou, distribuiu gentilezas e até falou com a imprensa canadense que o tratou como se o próprio Messias tivesse chegado no solo de seu país. As apresentações foram obviamente grandes sucessos de bilheteria, lotando os locais dos concertos. O ponto alto da turnê foi seu show em Ottawa. A presença de Elvis mudou a rotina do lugar. Centenas de ônibus lotados de jovens das cidades vizinhas chegaram na cidade. Muitos não encontraram vagas nos hotéis que ficaram completamente tomados por fãs vindos de todos os lugares do país. Perto da hora do show o trânsito parou tamanha a quantidade de gente se deslocando para ir na arena onde Elvis se apresentaria. Quando o cantor subiu ao palco a gritaria foi tamanha que ninguém conseguia ouvir nada. Era ensurdecedor. Pra falar a verdade nem eles mesmos conseguiram se ouvir. Elvis e o grupo foram na garra, sem retorno nenhum, contando apenas com seus instintos. O sistema de som para concertos ao vivo na década de 50 era muito primitivo e não conseguia soar mais alto do que milhares de adolescentes gritando ao mesmo tempo – era simplesmente impossível. Como ninguém conseguia ouvir, Elvis resolveu caprichar nas poses, na dança e nos trejeitos. Se não podiam lhe ouvir pelo menos as fãs o veriam dessa forma!

A polícia local certamente não estava preparada. A multidão começou a se espremer para ficar mais perto do palco e por pouco não houve um esmagamento em massa de quem estava nas primeiras fileiras. Elvis não deixou barato e procurou dar o melhor de si, ora chegando perto de seus fãs, ora se jogando no chão, se retorcendo, esticando o braço, pedindo ajuda – era demais para as garotinhas que foram literalmente ao delírio! O concerto foi rápido, mas intenso. Duas das músicas da lista que havia sido previamente distribuída aos músicos ficaram de fora, sem maiores explicações. Elvis simplesmente as pulou, indo direto para a última canção. Talvez ele estivesse com receio de que alguém fosse morto naquele mar de gente.

Quando os acordes finais soaram ele simplesmente deu no pé, deixando o pedestal do microfone balançando. As fãs gritaram em desespero, mas o show estava encerrado. Elvis nunca dava bis, essa era uma regra não escrita. No outro dia, como sempre acontecia, choveram protestos dos mais conservadores. Uma liga cristã, formada basicamente por donas de casa que odiavam rock, publicou um manifesto nos jornais condenando o show, afirmando que Elvis era “um péssimo exemplo para a juventude” e que uma mãe consciente jamais deixaria suas filhas irem a um antro de indecência como aquele. Ninguém ligou pois isso já tinha virado rotina e um tremendo clichê. Elvis se apresentava, as fãs amavam e no outro dia os conservadores protestavam. Era previsível. Elvis nem tomou conhecimento desses fatos, em breve ele estaria de volta aos estúdios de cinema para um novo filme e isso o deixava elétrico, excitado. Assim que seu avião decolou do Canadá ele celebrou com amigos o sucesso de sua excursão. O céu era realmente o limite para Elvis Presley nessa fase de sua vida. O mundo não tinha mais fronteiras para ele.

Pablo Aluísio.